Saga de ser Autista Adulto #02


   Em janeiro eu tinha escrito aqui no blog algumas considerações sobre ser adulto autista há quase um ano. Pois bem achei que esse seria o momento certo de voltar e contar o que mudou sobre tudo isso. Antes de mais nada quero dizer que encontrei o Carolino por aí e sim, o homem se tornou tipo um Zangief negão e trabalha em um supermercado. Mas é muito mais gente boa que naquela época. Eu juro que ele não me ameaçou para ratificar isso!
   O fato é que poucas coisas mudaram. Uma delas é que continuei no meu trabalho na creche. Amo o que faço e apesar das dificuldades não tenho razão alguma para abandonar minhas crianças, que são das poucas coisas que me fazem bem (junto com chocolate, videogames antigos e livros) nessa vida caótica. E eu mesmo nunca pedi qualquer mudança ou adaptação quanto ao meu diagnóstico, uma vez que como educador sou o último que pode tratar o autismo como uma limitação.
   Mas, como eu falei no post anterior, o resto eu estou fazendo tudo o que eu tenho direito, incluindo por exemplo pegar transporte público dentro da cidade de graça. Sim, na faixa. E tem pessoas que quando eu subo no ônibus me dirigem um olhar de inveja e desprezo que eu quase entendo como um bilionário se sente no meio do povo (embora no caso deles seja merecido). Na minha região pagamos uma das tarifas de ônibus mais caras do país, que leva parte considerável do salário, e é frustrante que boa parte do tempo que as pessoas trabalham é só para poder voltar a trabalhar. Inclusive comecei a rascunhar esse post no ônibus.
   Situação semelhante é quando vou a hospitais. Na cidade que eu trabalho os sistemas de saúde costumam me colocar inclusive na frente dos idosos para receber atendimento. Eu me lembro inclusive de quando fui a uma consulta por conta do ouvido, e ao colocar o otoscópio no meu ouvido, ele falou comigo com toda a delicadeza como se eu fosse uma criança que ia colocar bem devagar, e se incomodasse era para avisar que ele tirava. No dentista também percebo um tratamento difereciado, no sentido de serem mais polidos e delicados. É uma pena que eu precisei ter o diagnóstico para ter em muitos lugares o tratamento com educação e paciência que todos deveriam ter.
   Mas no fim tudo se acerta e se ajeita, e eu continuo vivendo, continuo lutando pela vida e por tudo o que acredito da maneira que posso. E vamos seguir acreditando que a vida é possível, mesmo se ferrando e aprendendo dia após dia!
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