Eu ja estava há muito tempo querendo fazer alguma coisa aqui no blog tipo uma mini novela, só para mostrar que eu sou melhor que a Iris Abravanel (o que não é exatamente algo raro), e estive conversando muito com o Felippe, que me ajuda a encontrar pautas para escrever com frequência. E uma das antigas encarnações desse blog de 2011, eu escrevi uma história que se passava com adolescentes em uma escola. Escrevi, claro, com a mesma qualidade com que Bolsonaro governou esse país, e por isso mesmo essa versão nunca mais verá a luz do dia, assim como, espero, um segundo governo dele. Sendo assim, optei por reescrever toda a história do zero. E para não ficar aquele melodrama das novelas da globo da mocinha sofredora, vamos começar com um menino. Mas não um menino qualquer, se não corre o risco de virar um dos personagens água com açucar do João Guilherme nas novelinhas do SBT que numa escola da vida real iam de tomar cuecão a receber comida quente na cara no intervalo todo dia. Vamos a uma coisa mais realista e vanguardista que todo mundo já idealizou, e eu vou partir de um momento real para compor o meu processo criativo, afinal, tem que sair por algum lugar, se é que me entendem!
Pois bem, eu era um moleque solitário que não falava com ninguém por vontade própria, e a recíproca de geral era verdadeira. Tímido de tudo, até que um belo dia ele apareceu. Tocando meu ombro, olhando para mim e sorrindo como se eu realmente fosse importar para ele no dia seguinte pela manhã!
Calma, não é isso! O ruivinho de sardas com um grande sorriso só queria que eu desse uma coisa para ele, e queria muito que eu a desse: Meu voto. Naquela altura na escola os colegas que formaram chapas para o grêmio estudantil já tinham feito tudo, mas tudo mesmo por votos, inclusive algumas meninas estavam trocando "ficadas" por votos. Curiosamente para mim ninguém tinha se oferecido! Acho que eu não valia o sacrifício para elas, mas o ruivinho sim achou que eu valia o sacrificio! Não, ele não me ofereceu isso!
O ponto é que a votação seria logo mais no fim da tarde e na manhã seguinte seria a contagem dos votos. E é com esse cenário (mas vamos colocar isso numa escola de verdade para variar), que vamos começar essa história. E se você, ruivinho, estiver lendo isso depois de todos esses anos e estiver concorrendo a algo, pode voltar e pedir meu voto de novo, mas eu não sou mais bobão que nem naquela época, vai ser preciso muito mais que um sorriso para eu dar. O voto!
Então, era o dia da contagem de votos, depois de todo o esforço de todas as chapas para o grêmio estudantil que sequer sabiam o que significava aquilo, mas aceitaram a falsa promessa do diretor de que vão mandar em alguma coisa quando na verdade estão aceitando trabalho voluntário que daqui a vinte anos só o autista da turma vai lembrar e talvez faça uma paródia escrachada em um blog meia boca que ninguém vai ler porque ninguém se importa, o que definitivamente não significa muita coisa para ninguém.
-Ainda não entendi porque ele está aqui! - Gabriela sussurrou, se referindo ao menino autista.
-Deixa! - Respondeu Max, o ruivinho de sardas que era o candidato a presidente em uma das chapas. Ele estava se achando o gostoso na ocasião, mas mal sabia que só aceitaram ele no cargo pelo apelo visual. Marketing é tudo, senhores. Inclusive na pré adolescência. - Eu prometi que ele ia participar para ele votar na gente! Esperto, né?
-E os outros cento e cinquenta?
-Que cento e cinquenta?
-Essa escola tem trezentos alunos, a gente precisa de cento e cinquenta mais um para dar mais que cinquenta por cento! Você não achou...
-...
-Ai, meu deus, você achou!
-Eu honestamente estranhei que veio pouca gente aqui mesmo! - Comentei eu, quer dizer, Gabriel, o menino autista.
-Certo, vamos começar a contagem! - O diretor puxou um dos papéis da urna aberta na nossa frente. - Voto para a Boys and Girls!
O duro é que eu não estou nem brincando: Na vida real, vinte anos atrás, esse era o nome da chapa do ruivinho. E nem da para reclamar porque a outra era Chapa Quente. Aí a gente espera que adolescente tenha o bom senso de não se meter com drogas, beber ou andar com gente errada, mas eles não sabem nem decidir o nome pelo qual vão ser chamados publicamente.
-Voto para Atrás da Moita! - Leu outro.
-Voto para H Romeu!
O mais divertido era ver o diretor ler esses nomes e ainda tentar disfarçar o olhar de julgamento de que essa geração está mais perdida que certo jogo da seleção contra a Alemanha que aconteceria anos depois.
-Só para eu entender, quem decidiu esse nome horroroso? - Perguntou o menino japonês que certamente enxergava em panorâmica.
-Ah, falou o japonês que chama Thor, gosta de hamburguer e usa celular da China! Bem coerente! Mas não teve nenhuma ideia melhor quando teve a chance!
-Um dia você vai aceitar que “Tardis” era melhor! Mas vai ser “tardis”!
Silêncio constrangedor enquanto Thor sorri esperando alguma reação para aquela piada. A contagem apenas continua logo depois.
-Voto para Tia Romba!
-Que deus a tenha, tia! - Suspira uma garota de lá do fundo.
Meia hora depois, finalmente sai o tão aguardado por todos resultado da contagem de votos. Valter, o diretor, um homem alto, negro, usando dreads curtos no cabelo, finalmente estava para anunciar o resultado dos votos.
-Mais dez votos para a Boys and Girls pela lata de guaravita mais cedo! Eu pedi cerveja, mas a família da Susana é testemunha de Jeova! Menos dez votos para a chapa do Carlinhos que foi na minha sala, tentou me beijar e como eu recusei levou meu guaravita embora! Mais vinte votos para a Tia Romba que descobriu logo hoje, olha que coincidencia, que meu animal favorito é a onça e por fim, menos vinte para Atrás da Moita, cujas meninas começaram o maior surto de herpes bucal da história da escola! Sendo assim, informo que Boys and Girls mesmo com esse nome horroroso que os índios do descobrimento devem se revirar no túmulo por não quebrarem os espelhinhos e enfiarem na jugular dos portugueses quando tiveram a chance de evitar essa tragédia, são os vencedores do Gremio Estudantil desse ano! Podem comemorar e fingir que vai mudar alguma coisa para alguém!
A galera começa a vibrar emocionada como uma final da copinha de Botucatu de 97 que não tinha muita gente assim. Mas então, Max se lembra de um detalhe importante.
-Seu Valter, toma cuidado quando for sentar na sua cadeira na diretoria! Amanhã eu trago o solvente! Mas a maior parte sai com água!
-...
-Em minha defesa, eu achei que as meninas da Herpes iam ganhar!
Cenas do próximo episódio: Max descobre o que todo mundo sabe: Depois da votação ninguém lembra mais que o Grêmio existe, igualsinho a presidência desse país e não, não vai mudar nada para ninguém. O que, convenhamos, só ele não sabia!
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