Se tem um móvel que eu sempre respeitei foi cadeira. Se alguma coisa é feita para aguentar a bunda horrorosa e suada dos outros sem reclamar, essa coisa, ainda que inanimada, merece respeito. Mas esses dias uma cadeira teve seu momento de glória representando a classe.
Eu tenho assistido a praticamente todos os debates para a prefeitura de São Paulo até o momento em que escrevo esse post, e honestamente, eu só não tive vontade de enfiar mão de TV de raiva por um único motivo: Eu sou uma pessoa educada de modos formais, e assisti pelo tablet. Mas falando sério, todos tem visto a atuação desastrosa dos candidatos a prefeito da maior cidade da américa latina.
Pablo Marçal, coach, condenado e com carreira conhecida por golpes em idosos e ligações estranhas com líderes do crime organizado, conseguiu trazer todos os debates e candidatos para um nível tão baixo de discussão e troca de ideias que eu jamais pensei que fosse possível: Desde criança, apesar de não concordar com todas as suas ideias, achava incrível ouvir Enéas Carneiro, e mesmo hoje as pessoas podem pensar qualquer coisa dele, mas que esse homem era um grande mestre da comunicação e oratória, isso ninguém duvida. Respeitava-se, á época, que debates eram informação e não entretenimento.
Em algum momento, Marçal esqueceu essa diferença e resolveu ir as últimas consequências ao misturar as coisas. De um lado acusou Boulos sem provas de envolvimento com tráfico de drogas, de outro, debochou do suicídio do pai de Tábata Amaral e por fim, da morte da sogra por conta das acusações de assédio (e não estupro) sofridas pelo Datena. O fato é que, por mais que se repudie a violência, se o Datena não tivesse dado aquela cadeirada, alguém ia dar. E cabe lembrar que palavras podem machucar tanto quanto golpes físicos, e até mesmo o fabulista Esopo falava sobre o poder da língua para o bem e para o mal milhares de anos atrás.
O fato é que a cadeirada não é um fato isolado e sim um fruto do que vem sendo construído culturalmente em torno da política, a transformando em campo de guerra onde tudo vale desde as manifestações de 2013. No debate seguinte, as cadeiras foram parafusadas para evitar novas situações do tipo. O fato é que é humilhante para um país que tem a ousadia de se chamar democrático ter que controlar candidatos a um importante cargo de gestão pública tal qual fossem estudantes da quinta série. O que Marçal conseguiu foi escancarar como não estamos levando a política a sério em qualquer esfera nesse país, o que é fruto direto de transforma-la em Fla Flu, a polarização, que é o verdadeiro efeito daquela manifestações de onze anos atrás.
No final de tudo quem tomou essa cadeirada fomos todos nós. O povo brasileiro eleitor.
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