Fala, galera. Hoje é um dia que estão acontecendo mil coisas para atacar minha ansiedade, que nem de motivo para isso precisa, então para criar conteúdo para vocês hoje está difícil, mas como além de não ganhar um centavo ainda pago o domínio dessa joça, então eu pensei numa coisa: Há um tempo atrás eu fazia um quadro chamado "Veríssimo no Jornal" aqui no blog, onde recuperava as crônicas antigas dele na Folha de São Paulo e repostava comentando no final. E hoje eu pensei: Porque não estender isso para outros autores? Senhoras e sejam bem vindos ao seu momento literatura no blog para conhecer os autores que me inspiram como escritor:
-Por que não posso ficar vendo televisão?
-Porque você tem de dormir!
-Por quê?
-Porque está na hora, ora essa!
-"Hora essa"?
-Além do mais, isso não é programa para menino!
-Por quê?
-Porque é assunto de gente grande, que você não entende!
-Estou entendendo tudo!
-Mas não serve para você! É impróprio!
-Vai ter mulher pelada?
-Que bobagem é essa? Ande, vá dormir que você tem colégio amanhã cedo!
-Todo dia eu tenho!
-Está bem, todo dia você tem! Agora desligue isso
e vá dormir!
-Espera um pouquinho!
-Não espero não!
-Você vai ficar aí vendo e eu não vou!
-Fico vendo não, pode desligar! Tenho horror de televisão! Vamos, obedeça a seu pai!
-Os outros meninos todos dormem tarde, só eu que durmo cedo!
-Não tenho nada que ver com os outros meninos: Tenho que ver com meu filho! Já para a cama!
-Também eu vou para a cama e não durmo, pronto! Fico acordado a noite toda!
-Não comece com coisa não, que eu perco a paciência!
-Pode perder!
-Deixe de ser malcriado!
-Você mesmo que me criou!
-O quê? Isso é maneira de falar com seu pai?
-Falo como quiser, pronto!
-Não fique respondendo não! Cale essa boca!
-Não calo! A boca é minha!
-Olha que eu ponho de castigo!
-Pode pôr!
-Venha cá! Se der mais um pio, vai levar umas palmadas.
-…
-Quem é que anda ensinando esses modos? Você está ficando é muito insolente!
-Ficando o quê?
-Atrevido, malcriado! Eu com sua idade já sabia obedecer! Quando é que eu teria coragem de responder a meu pai como você faz? Ele me descia o braço, não tinha conversa! Eu porque sou muito mole, você fica abusando! Quando ele falava "Está na hora de dormir", estava na hora de dormir!
-Naquele tempo não tinha televisão!
-Mas tinha outras coisas.
-Que outras coisas?
-Ora, deixe de conversa! Vamos desligar esse negócio! Pronto, acabou-se! Agora é tratar de dormir!
-Chato!
-Tome, para você aprender! E amanhã fica de castigo, está ouvindo? Para aprender a ter respeito a seu pai!
-…
-E não adianta ficar aí chorando feito bobo! Venha cá!
-Amanhã eu não vou ao colégio.
-Vai sim, senhor! E não adianta ficar fazendo essa carinha, não pense que me comove! Anda, venha cá!
-Você me bateu.
-Bati porque você mereceu! Já acabou, pare de chorar! Foi de leve, não doeu nem nada! Peça perdão a seu pai e vá dormir!
-…
-Por que você é assim, meu filho? Só para me aborrecer! Sou tão bom para você, você não reconhece! Faço tudo que você me pede, os maiores sacrifícios! Todo dia trago para você uma coisa da rua! Trabalho o dia todo por sua causa mesmo, e quando chego em casa para descansar um pouco, você vem com essas coisas! Então é assim que se faz?
-…
-Então você não tem pena do seu pai? Vamos! Tome a bênção e vá dormir!
-Papai!
-Que é?
-Me desculpe.
-Está desculpado. Deus te abençoe. Agora vai!
-Por que não posso ficar vendo televisão?
Se na década de sessenta, quando esse conto foi escrito, lidar com crianças já era uma coisa complicada e eles já sabiam como responder e testar a nossa paciência, vocês podem imaginar como é hoje em época de internet e acesso fácil a informação e tecnologia em um mundo que, sob muitos aspectos, é mais feito para eles do que para nós, que nascemos no início dos anos 90 ou antes. Mas o final que imagino é que esse menino vai vencer a discussão e vai acordar no dia seguinte com olheiras parecendo um zumbi e vai dormir na aula, mas invariávelmente vai querer assistir I Love Lucy na noite seguinte. Sim, isso é uma coisa que passava na década de sessenta! Passam-se os anos e o garoto vira produtor de TV nos anos 90. E um belo dia se pega tentando convencer o próprio filho a ir dormir porque vai passar Emanuelle (quem sabe, sabe! rs) e é melhor que ele consiga porque foi ele mesmo que decidiu essa grade!
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