Péssima hora para ficar Doente



   Eu posso imaginar como vcês gostam de saber todos os meus perrengues com o sistema público de saúde e quase todos os posts que eu conto essas histórias foram bem vistos, então claramente vocês gostam de assistir o meu sofrimento, que eu sei.
   Pois bem, vejam o contexto disso: Das três unidades de pronto atendimento, vulgo pronto-socorros da cidade, duas estavam em reforma e os atendimentos delas foram movidos para o terceiro. E não, não pareciam ter três equipes para atender o povo, mesmo assim, a gente tinha ali na base de umas 120 pessoas esperando para ser atendidas.
   Eu tinha acordado naquele dia com uma dor terrível nas costas. Provavelmente tinha dormido de mal jeito e agora estava me sentindo um bonecão de Olinda, sem poder dobrar as costas para nada, nem me abaixar. E eu queria mil vezes estar trabalhando, que apesar de estar rodeado de gente, o que já me incomoda, ao menos estaria fazendo o que amo. Ou seja, a galera que estava atendendo ali estava se virando para atender por três, literalmente, num espaço montado as pressas que mal cabia todo mundo!
   Eu achei que, por ser autista e ter direito a atendimento prioritário, a coisa seria bem mais rápida. Até que foi, só fiquei duas horas ali, ao contrário de uma moça que vi se queixar de estar ali há três horas para ser atendida. Mas o mais divertido (mais para vocês que para mim) é que depois de passar pelo atendimento com a médica e ser diagnosticado com mialgia (uma espécie de inflamação muscular) a hora que eu fui para a sala de medicação, de cara eu me senti no lugar errado na hora errada.
   A moça que me atendeu pediu para esperar que ia só preparar as vacinas. Que eram duas no traseiro, para variar. Até que do nada eu escuto um berro.
   "NÃO TEM UMA COISA NESSA UNIDADE QUE A GENTE PEGAR QUE NÃO ESTEJA SUJO DE SANGUE OU DE CARVÃO!"
   Assim, eu mesmo não vi nada, mas não é possível que era para tanto. Depois, liga uma pessoa para ela, com quem ela começa a discutir no telefone em voz alta. Eu juro por deus, teve uma hora que ela deu um soco no balcão de madeira que as coisas quase pularam em cima dele.
   "Calma, fulana, é sua mãe!" Uma colega dela tentou acalma-la.
   Eu nessa hora já estava quase fazendo meu testamento. A mulher não teve dó do hospital, do pobre do balcão e muito menos da própria mãe, que dirá de mim? Pois dito e feito, ela me levou para trás de uma cortina, e eu, todo assustado, baixei a calça.
   -Vai doer um pouquinho!
   -Então, moç...
   Eu juro por deus que ela mandou com tanta força aquilo dentro de mim que minha alma saiu do corpo e desceu, de forma que foi impossível não me mexer. Alguém tinha alguma dúvida que ela ia descontar a raiva no primeiro paciente que aparecesse? Só lembro de ela falar em voz alta:
   -Se você ficar nervoso eu vou errar!
   Nem parecia que ela tinha acertado para falar a verdade. O pior é que era meio tarde para me pedir para eu não ficar nervoso. Se até o balcão já tinha tomado p#rrada na minha frente. Enfim, mandou a segunda, que foi até pior. No fim, agradeci, levantei a calça e me retirei, literalmente mancando. Tinha entrado com dor nas costas e saí com dor na bunda, e desconfio que mais do que deveria ter.
   Conclusão: Lutem pelos direitos do pessoal da enfermagem! Sério, salva vidas!

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