Tudo mudou naquele dia. Quando acordei pela manhã e desci as escadas, Max e Thalia estavam na cozinha instalando outra pia. Eu mal podia acreditar em meus olhos. Ela passava as coisas para ele enquanto ele, sem camisa, mexia com a massa corrida. Eu nem sequer sabia que ele sabia fazer essas coisas de marido de aluguel. E mesmo assim, ele estava lá.
-Eu devo presumir que aconteceu alguma coisa muito séria, né?
-Na verdade, sim! - Disse a moça de cabeça baixa. - A novela foi cancelada e meus pais já estão no avião a caminho de casa! Parece que o sonho acabou!
-Mas eu não vou desistir de você, e por isso estamos consertando essa pia!
-Mas o meu pai nunca...
-Eu vou me entender com ele, meu anjo!
Dava para ver em seus olhos que ele realmente estava disposto a fazer o que fosse preciso. Estar em risco de perde-la e perder o emprego que importava muito mais que o salário tinha esclarecido a mente deles. Fui acordar os meninos para leva-los para a escola, mas naquela altura nem mesmo eu era mais o mesmo. Tudo tinha acontecido muito rápido, foi muito breve, apenas duas semanas com eles. E era preciso admitir: Eu já tinha me apegado muito a eles. Ao entrar no quarto de Lucas, só tive uma reação. Acorda-lo devagar e trazê-lo aos meus braços.
-Bom dia, tio! O que houve?
-Seus pais estão voltando hoje, então... Acho que vocês não vão precisar mais de mim!
-Como é?
Theo passava pelo corredor de pijama. Sabendo da sua ansiedade recém diagnosticada não queria que ele soubesse daquele jeito, sem anestesia, de uma vez. Entrou no quarto e me abraçou sem pensar muito. Os olhos lacrimejando. Começava uma crise.
-Calma, eu não vou embora para sempre! Ainda vamos nos ver muito, só que... Não vai ser sempre assim! Vocês precisam dos seus pais e eu tenho outros caminhos. - Disse, sem certeza alguma de quais seriam esses caminhos! Deixei ele chorar no meu colo até se acalmar e pensar melhor, até porque, como ansioso crônico, sei que contra a ansiedade não há palavras.
Deixamos eles prontos e mandamos eles para a escola, que voltava as aulas com inúmeras ações de prevenção, prometendo que no fim do dia ainda estaríamos ali. Theo já estava medicado e pedi que não pensasse mais nisso, para o bem dele mesmo. E então, voltamos para o carro, Max e eu. Um carro muito mais solitário e vazio sem eles.
-Eu achei que ia durar mais. - Ele murmurou.
-Olha, eu vou sentir saudade deles. Mas a vida é um jogo por vezes doloroso, mas saiba que eu estou orgulhoso de você. Nos muitos cenários catastróficos que imaginei na minha cabeça de ansioso quando soube que ia trabalhar por você, em nenhum achei que você fosse pelo menos tentar como fez por eles. Eles gostaram de você!
-Mas eu sou um incompetente!
-Sim, você é! - Eu ri.
-Nenhuma solidariedade entre irmãos? - Protestou.
-Não! Mas espero sinceramente que você e a Thalia sejam muito felizes! Quero dizer, vai ter que enfrentar o pai dela e esse é um passo importante e impossível de pular, mas você já fez demais até aqui, consegue fazer isso! E eu, vou ver o que vou fazer daqui para a frente também!
-Você vai ficar bem e eles também! Nós vamos... Encontrar um jeito!
Batemos as palmas das mãos, concordando. Estacionei o carro e entramos na casa. Naquele momento, ao entrar, ouvimos o barulho do taxi e os vimos sair com as malas. Nem bem sentamos no sofá. Eles estavam ali se aproximando da porta. Ao menos os meninos não estavam ali para nos ver. Mas ela estava. Thalia descia as escadas. Era agora. Agora que uma difícil conversa ia começar!
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