Ensinei Uno para as Crianças na Creche! Não deu bom!


   Eis que esses dias me ocorreu uma idéia meio doida, mas que tinha tudo para dar errado certo e as crianças se divertirem. Na ocasiãp eu tinha um grupo de crianças de cinco anos que eu tinha acabado de assumir, e aos cinco anos você precisa provar para as crianças que vai ser legal com você e criar boas relações ou vai passar o ano inteiro gritando. Na verdade você vai passar o ano inteiro gritando de qualquer jeito, mas que seja pelos motivos certos!
   Pois bem, o primeiro passo foi explicar que não, aquelas não eram figurinhas para bater, que se fosse para fazer isso eu teria pegado as velhas figurinhas do Rebelde do meu sobrinho (um dia, provavelmente, ele vai se envergonhar de ter a foto do Miguel sem camisa na carteira) e não pago caro em um baralho para eles!
Depois disso foi implorar para pelo amor de deus não amassarem as cartas e segurarem direito porque eu não ia ter dinheiro para comprar outro baralho tão cedo!
  BE isso tudo tomou só os primeiros quinze minutos. Considerando que os primeiros três minutos de uma atividade nova geralmente são o aviso de que isso não vai dar certo e que ainda dá tempo de mandar eles para a areia, eu já estava indo longe demais para parar. Na verdade ter comprado o baralho para eles já foi ir longe demais para parar!
   Então expliquei as regras enquanto distribuia as cartas. Com cinco anos as crianças já aprenderam as cores básicas e os números de um a dez, então em geral você não espera ter de ouvir a cada três segundos:
   -Essa pode?
   -Fulaninho, os outros não podem ver sua carta!
   -E essa pode?
   -Eu já falei, tem de ser da mesma cor ou mesmo número que a da mesa!
   -Ah, tá! Então essa pode?
   Juro por deus, foi quase uma partida inteira disso. Não satisfeitos, no meio alguém me solta:
   -Porque ele tem mais carta que eu?
   -Porque você acabou de jogar!
   -Mas não é justo! - Fez bico.
   -O que não é justo? Você ganha se ficar sem nenhuma carta!
   -Ah, é só isso?
   -É!
   Jogou toda a mão de volta no monte. Naquele momento eu juro que comecei a somar minhas dívidas versus meu salário para ver se aquilo realmente valia a pena. Mas seguimos. Até que alguém jogou o "+4" para o coleguinha.
   Houve aquela troca de olhares. Quem está acostumado a lidar com crianças já sente um arrepio na pele naquele micro segundo e pensa "vai dar briga".
   -Agora você tem que pescar quatro cartas!
   -Porque eu?
   -Porque é o jogo!
   -Então eu não quero mais!
   -Então você perdeu!
   -Eu não perdi, você que roubou!
   -Não roubei nada!
   -Roubou sim!
   -Ok, ja chega! - Interrompi. - Fulaninho, você tem que comprar quatro cartas! É a regra do jogo!
   Dei eu mesmo a ele as quatro cartas. Então o outro jogou a penúltima carta de sua mão.
   -Você não falou Uno!
   -Falei sim!
   -Não falou!
   -Falei baixinho!
   -Falar baixinho não vale!
   -Vale sim!
   -Não vale não!
   Os dois olharam para mim. E eu, ja me arrependendo de ter começado aquilo e me convencendo que devia ter tentado dominó, simplesmente soltei:
   -Vamos para a areia, antes que eu me arrependa também!
   O dinheiro do Uno teria pago um café e uma coxinha, o que me faria bem mais feliz.
   -Mas então quem ganhou, tio?
   -Não sei, mas eu claramente perdi!

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