Da Redação #08: Sobre Gatos, Mortes e Esperança

   Eu imagino que vocês devam se lembrar do meu gato preto, que costumava ser o astro da série de posts "meu gato" aqui no blog, nas temporadas anteriores. Nesses mais de duzentos e trinta posts que temos até agora, elas foram uma das coisas que eu mais gostei de escrever. Amo gatos e sempre digo que meu fim será como o velho louco dos gatos.

   Mas um belo dia, dessas saídas noturnas, ele não voltou mais para casa. Já estava velho, andava doente e cansado, e podíamos perceber o seu ritmo de vida ficando mais lento. Houve vezes em que ele vinha até minha perna para eu leva-lo até a comida que já estava posta, sugerindo algum tipo de alzheimer felino (sim, isso existe) que nunca confirmamos. Meu pai gostava desse gato muito mais que eu. E se me perguntar, acredito que aquele gato velho tenha se retirado para morrer sozinho e nos poupar. Já estava na família há muitos anos, talvez mais do que possamos mensurar. Para mim, ele é eterno.

   Sendo bem sincero, eu não ando de bem com a morte (embora ela tenha um quadro aqui no blog). Uma criança que foi minha na creche faleceu de um câncer extremo contra o qual já lutava e estava desenganada pelos médicos há muito tempo. Apenas quatro aninhos de idade. Já me deixou muito mal e sensível para qualquer coisa. O nosso gato desapareceu mais ou menos na mesma época. Quatro artistas muito queridos, que eu acompanhava e era muito fã se vão na mesma semana, e para fechar, a tragédia de Saudades em Santa Catarina (sendo que eu também trabalho em creche) e a partida do eterno Paulo Gustavo. E a ansiedade apitando louca que nem um trem.

   Estamos todos presos nesse país, com esse governo horrível, vítimas de um governo que está fazendo uma das piores gestões de crise sanitária do mundo, se é que alguém ali tem a menor noção do que seja uma gestão de crise. Um governo que desde antes das eleições vivia muito mais de ideologia e polarização do que de projetos, e agora que a água bate com força na bunda, perceberam que a ideologia e as fake news no whatsapp não resolvem problemas econômicos e sociais, ainda mais os de tão larga escala como os que estamos vivendo.

   Mas, felizmente, também trago boas notícias. Adotamos mais dois gatos. Dois tigrinhos gêmeos filhotes brincalhões e especiais. E talvez o caminho seja mesmo esse. Não esquecer de quem se foi, mas também jamais deixar faltar energia para amar quem ainda está aqui. E esses gatinhos certamente, mesmo sem saber, vão carregar o legado do outro gato, e vão continuar levando alegria como ele levava. E claro, fico mais que feliz em poder dizer que eles vão fazer o mesmo também aqui no blog. Vou ter que renomear o quadro para "Meus Gatos" no plural e vai ser trabalhoso, mas farei como todo o carinho do mundo, como sempre fiz nos últimos quatro anos por aquele velho e rabugento gato preto, que para mim, trouxe apenas sorte e amor!

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