Herois da Vida Real #03: O Imbecil da Pandemia


   Como eu disse no outro post, trabalhar com atendimento ao público é pedir para passar raiva e plantar uma bela de uma futura úlcera no estômago, que será sua fiel companheira de aposentadoria, inclusive, a minha vai se chamar Sofia!
   E hoje vos conto a história do ser humano mais indecente, pau no c# e sem moral que já encontrei em todos esses dias de trabalho de porta em porta:
   Essa foi daquelas casas que a campainha, mesmo funcionando, era meramente decorativa, porque ele veio me atender no portão sem nem abrir para olhar na minha cara. Era uma casa de classe média com câmera no portão, ele já sabia que era um desconhecido!
   -Senhor, boa tarde!
   -Pois não?
   -Senhor, boa taarde!
   -Pois nãão?
   -Senhor: Boa taaarde!
   -Boa tarde! - Irritado. - O que você quer?
   Me apresentei explicando para que eu estava ali. Me interrompeu no meio, não me deixando concluir.
   -Não, obrigado! Aqui ninguém precisa disso, não, viu?
   -Entendo, senhor, se eu não estiver sendo inconveniente, poderia só me dar um copo de água? A gente está andando no sol a bastante tempo, sabe como é!
   E agora é que vem o suprassumo da filha da p#tisse:
   -Você vai me desculpar, mas nessa pandemia eu não estou abrindo o portão para nada, viu?
   Eu não me importaria e nem pensaria mal dele SE EU NÃO ESTIVESSE VENDO A FESTINHA NA PISCINA ENTRE AS BARRAS DO PORTÃO!
   E agora, eis como eu devia ter respondido:
   -Ah, entendo, senhor! Alias, eu aplaudo seus esforços em proteger aí os seus três esposos que estão tomando cerveja, os sete filhos brincando na piscina e mais aquelas tias lá! Alias, sua casa deve ser bem total flex, pequena para quem vê, gigante para quem anda porque para essa família tão grande...! E com certeza se amam muito, como vejo aquele casal abraçado, porque olha, só o amor sustenta a dureza desses tempos, não é? Só é uma pena que o senhor esqueceu seu carro aqui fora, senhor! E acho que os seus três esposos também! Espero que o senhor não abra o portão para vir pegar, porque uma BMW com os vidros abertos e a chave no contato - Esse detalhe seria mentira. - não vale o risco para a sua família, não é mesmo?
   Nesse momento, ele ou um dos caras ia vir correndo ver o carro. Nesse momento eu olharia para a cara de bunda dele sorrindo:
   -Bem, agora que o senhor furou, abrindo o portão, pode me dar um copo de água? E se possível me trás um refri e uma carne também para descer melhor!
   Sim, essa é daquelas horas na vida em que eu gostaria de poder deixar de lado as convenções sociais e partir para o "não gostou, me processa!", mas, era a vida real. E eu certamente ainda voltarei a trabalhar - a contragosto - naquela vizinhança!

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