-Me fala de novo porque você está no meu carro! – Suspirei. – Ainda estou custando a acreditar!
-Nós vamos trabalhar juntos como babas, maninho! Mas as fraldas do menor são suas! – Zombou, abrindo uma latinha de cerveja. Isso explica porque quis que eu dirigisse.
-O menor tem sete anos! – Resmunguei. – Você é a pior pessoa do mundo para esse trabalho, porque quer isso? E além disso, eu sei que você nem gosta de crianças!
-Razão número um: Eu preciso de emprego! Meu antigo chefe descobriu que eu estava pegando a filha dele quando pegou a gente abraçados bebendo a cerveja dele! Mas não entendi direito se ele me demitiu pela filha ou pela cerveja!
-Idiota! – Murmurei. – Eu vou ter que te ensinar tudo o que eu sei, vai ser o único jeito! Você obedece as minhas ordens e faz o que eu mandar até aprender, ouviu?
-Porque deveria? Além disso, ainda não terminei: Razão número dois: Quando ele mostrou a foto da mais velha na carteira dele eu gamei! Dezessete aninhos e já tem aquele para choque? É evidente que eu quero!
-Você está se ouvindo? Foi demitido por pegar a filha do chefe e quer fazer isso de novo? Além disso, você é dez anos mais velho que ela, e você foi contratado por causa do adolescente do meio! Aparentemente o Carlos quer que você transforme o Theo em um bebum metido a playboy que nem você!
-Você fala como se isso fosse ruim!
-Você é ruim! Você é a Paola Bracho dessa família, tirando que é alcoólatra como a vovó piedade e tem retardo que nem o Carlinhos!
-E você é sonso e certinho que nem a Paulina! E ninguém gosta de você! É sempre o vilão que faz a novela andar!
-Eu acharia engraçado ver como você não vai durar uma semana naquela casa se eu não corresse o risco de ser demitido junto com você!
Estacionei em frente a mansão. Era uma casa grande com um jardim na frente, até lembrava a casa dos meus antigos patrões em Nova York, apesar dos muros altos e cerca elétrica. Entrei com o carro e descemos. Uma empregada apareceu para pegar as malas. Minutos depois, Max e eu estávamos sentados no sofá da sala com o casal Lewis... Ah, dane-se, Luís Terra. E lá estavam as crianças. E Max, claro, sem prestar atenção em uma palavra, de olho nos “parachoques” da Thalia.
E Thalia era loira, cabelos até as costas, olhos claros, literalmente uma capa de revista viva na nossa frente. Mas, aparentemente de mau humor.
-Porque eu tenho que ter uma babá? Aliás, duas, que é mais humilhante ainda! Nenhuma das minhas amigas tem isso!
-É porque a mãe delas não corre o risco de elas darem uma festa e chamar os amigos para se entupirem de bebida e destruir a casa inteira! – Kátia provocou.
Só queria entender porque ela contratou o meu irmão bebum e que vive em balada se queria evitar exatamente isso.
-Bem, essa é a Thalia! Eu admito que posso ter mimado um pouco demais, mas com o tempo vão ver como ela e ótima! – Avisou Katia. – E esse é o Theo!
Um adolescente normal na faixa dos catorze anos, com uma camisa azul de time, e também com cara de poucos amigos.
-Pai, como eu vou trazer uma namorada aqui com esses dois vigiando a gente?
-Não vai! – Disse Kátia.
Carlos então piscou para o Max. Sim, agora eu entendi porque ele tinha batido o pé que queria o meu irmão bebum e baladeiro na casa dele mesmo quando a confusão se desfez e ele soube que Max não era o cara que Raquel indicou: Max era o jeito dele de tentar impedir que acontecesse com o Theo o mesmo que aconteceu com a Thalia: Se tornar a Kátia. E por fim, o que faltava, era apenas o pequeno.
-Oi, Lucas! – Eu disse, com o sorriso amarelo. – Olha só quem diria, hein?
-O Pedro não vai achar ruim?
-Não! Ele tem outra babá agora, e você tem duas! Isso não é legal?
Ouviu-se a campainha tocar lá fora. Kátia e Carlos se levantaram e começaram a cumprimentar os filhos e pegar as malas. Era o carro que os levaria para o aeroporto. Daquele momento em diante, eu ia ter que controlar toda uma casa e aquelas crianças que, exceção do Lucas, estavam nos recebendo de má vontade. E era literalmente a primeira vez que isso me acontecia. E pior, eu ia ter que ensinar o cara mais errado do mundo, meu irmão, a cuidar de crianças. Sendo que ele não sabia cuidar nem dele mesmo. Podia acontecer tudo agora.
-Conto com vocês dois! Até dezembro! E se comportem crianças! – Sorriu Kátia, antes de atravessar a porta. – Ou não, o problema é deles agora! Beijinhos!
E assim, estávamos apenas nós com as crianças. Ficamos nos entreolhando por algum tempo. E então, foi Thalia quem quebrou o silêncio.
-Já cuidou de qualquer outra criança que não o seu pênis? – Olhou para mim, com desprezo.
-Você devia falar assim com ele! – Protestei, apontando para o meu irmão. – Ele deu até um nome para criança dele!
-E as garotas que eu pego acham fofinho! – Se gabou. Sussurrou em seguida. – Te falo depois em off, loira!
-Façam o que vocês quiserem! – Theo avisou, em off, indo para as escadas e subindo. – Enquanto eu puder trazer minhas garotas aqui e tomar minhas cervejas, não vamos ter problemas!
-Gostei do garoto! – Max sussurrou para mim.
-Você acha realmente que ele faz isso?
-Então... Qual de vocês dois é do mal? – Perguntou Lucas, recuando. – Porque nos desenhos, sempre que tem duas pessoas iguais uma delas é do mal, e eu não quero alguém do mal cuidando de mim! – Avisou.
Max e eu nos entreolhamos. Como é que minha vida tinha chegado nesse ponto? E como é que a vida dele cruzou com a minha exatamente agora?
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