Hoje vamos a uma história pesada que eu achei por bem esperar "vencer" antes de postar aqui. Trabalhei numa creche antes da pandemia. E amo estar com crianças, amo o contato com elas. É ali que minha vida está. Mas, como sou homem, eu tenho o trabalho extra de ganhar a confiança dos pais já que a ausencia de seios e "otras cositas mas" não me permite ter isso automáticamente como minhas colegas tem.
Aconteceu que eu fui para o maternal (crianças de dois anos). E se os maiorzinhos os pais já acham que é um cristalsinho que vai quebrar com qualquer coisa, pai de criança pequena então é o verdadeiro inferno nesse quesito. E o pior, mesmo o pai que mete a cinta/chinelo faz questão de achar que a creche é que é o perigo!
Pois bem. Aconteceu o corriqueiro: Uma criança da turma de cinco anos veio correndo no corredor, e antes que eu pudesse fazer algo atropelou um dos meus. Não chega a um minuto chorando, logo ele já está de boa, como se nada tivesse acontecido!
No dia seguinte aparece o pai na creche, p#tasso e aparentemente drogado exigindo explicações. Segundo ele o menino voltou para casa chorando de dor, as pernas todas raladas, e chorou de dor a noite inteira. Sendo que no dia anterior eu o entreguei perfeitamente bem! Ele estava muito fora de si com seja lá o que for que ele consumiu que não estava falando coisa com coisa e as meninas (minha diretora e a secretária) apavoradas, com medo do que ele podia fazer, agredir alguém! Era um cara grande e tava louco na droga! E creche publica não tem segurança nenhuma, né?
Fui chamado, junto com a professora do maternal. E eu podia ter mentido, mas não sei de onde tirei coragem de me arriscar (um soco daquele cara e eu provavelmente ia dar as caras no céu) e dizer a verdade:
-Sim, uma criança grande esbarrou nele, mas isso que o senhor está falando não tem lógica!
-Como que não? É igual se ele fosse atropelado por um caminhão!
Que crianças são essas que ele conhece que pesam igual um Scania, pelo amor de Deus?
-Não, senhor! - Respondi, firme. - Esse tipo de tombo é corriqueiro porque não tem como a gente ver tudo a tempo. Mas não tem como só o seu filho ter se machucado tanto!
Eu acho que quando ele viu que tinha um homem ali e disposto a enfrenta-lo (ou assim deve ter parecido já que eu falei a verdade, sem baixar a cabeça nem por um momento) ele baixou um pouco a bola, pediu para beber água, bebeu e depois saiu repetindo, agora em voz mais baixa, os mesmos impropérios.
No dia seguinte, voltou sóbrio e cancelou a matrícula. Alguém disse que ele falou bem de mim e da professora, disse que o menino gosta de nós. Deve ter se arrependido do papelão que fez.
Minha hipótese até hoje é que ele é que agrediu a criança e depois, alterado, achou que era uma boa jogar a culpa em nós. Mas não posso provar.
Espero que o filho dele, passados alguns anos, não tenha engordado que nem um Scania.
Moral da história: Carros são como lanchas, motos são como os jetskis e os caminhões são como crianças de cinco anos!
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