Enfim, estava de volta ao Brasil depois de sete meses e meio no exterior trabalhando como Au Pair em Nova York nos EUA com uma família que, com exceção do pai, eu tinha adorado trabalhar. Mas, estava para chegar outro natal e eu não tinha ainda me recuperado totalmente disso. Até que um dia o telefone tocou, e tocando, uma pessoa atendeu. Era o Maurício. Ia começar de novo uma coisa maior do que tudo pelo que já tinha passado e eu não tinha a menor ideia do que era.
-Oi! – Me chamou pelo nome. – Há quanto tempo você está de novo no Brasil? – Perguntou antes que eu tivesse tempo de dizer qualquer coisa.
-Umas duas semanas! Felizmente voltei para cá ainda com algum dinheiro do último pagamento dos Cooper, por sinal, muita saudade dos meninos! Espero que Oliver e Noah sejam muito felizes como estão agora!
-A Raquel acabou de falar comigo que indicou você para uma amiga, e ela quer conhecer você! Ela tem dois meninos e uma menina, e disse que ela e o marido vão precisar viajar por seis meses! Vou te explicar melhor, mas ela quer jantar com você em um restaurante no centro da cidade para resolver isso o quanto antes, e como você está na cidade e sem emprego de novo, acho que vai ser legal para você!
-Nossa, sim, eu quero! Só me dá o endereço e me diz o dia e a hora, Maurício! E agradeça a Raquel por ter me indicado!
-Ela queria te compensar de alguma forma sobre quando deixou o Pedrinho e o nosso apartamento! Mas, você não soube por mim! – Riu-se.
A amiga da Raquel em questão não era só uma pessoa qualquer, era a mais rica e poderosa de suas amigas, uma influencer digital do ramo do entretenimento feminino, leia-se youtuber de maquiagem e coisas de mulher: Katia Lewis Sand era o nome artístico. E Kátia Luís Terra era o nome de batismo que ela detestava. E dessa vez ela ia viajar com o marido (que a agenciava) por um ano para participar de uma novela, mas apareceria ocasionalmente e precisava de uma babá que também fizesse de governanta nesse período, mantivesse a casa em ordem, e é claro, ajudasse a cuidar de seus três filhos. Enquanto conversávamos animadamente na mesa do restaurante, ela puxava fotos deles da carteira.
-Essa é a Thalia, ela tem dezessete anos, está naquela fase de adolescente rebelde então você vai precisar ter paciência, mas é a que menos vai te preocupar. O Theo tem 14 anos, e nesse momento, como todo adolescente...
-Acha que pode fazer tudo que adultos fazem, o que é um porre!
-Menino, a Raquel tinha razão, você é bom mesmo! – Pareceu surpresa.
Mas foi o mais novo que me chamou atenção. Um menino de sete anos e meio, poucos meses mais novo que o Pete, e bem, o melhor amiguinho dele, e inclusive, protagonizou com ele a cena da peça da escola, onde os dois acharam de tirar a roupa no palco na frente de dezenas de pessoas por causa do calor e eu e os outros pais tivemos que salvar a situação! O que pensei na hora é que isso ia ser estranho, e talvez o Pete se sentisse traído. Fui babá dele por quatro longos anos e agora ele me veria com o amiguinho dele direto! Mas, eu não estava em posição de rejeitar emprego.
-Lucas é um fofo, é minha vida, então quero cuidado especial com ele, e vai ser legal porque ele já te conhece de muitos outros carnavais, não é? – Tocou meu braço. A bebida começava a fazer efeito, aparentemente.
-Sim, é claro!
-E soube que acabou de voltar de um trabalho no exterior!
-Sim, crianças ótimas também, é uma pena que acabou como acabou, mas a vida segue, tem que seguir sempre, não é?
-É, verdade! Quero que comece amanhã, está bem? Vem! – Se levantou. – Vou te dar uma carona até seu apartamento!
Mas a coisa mais inesperada aconteceu quando a gente chegou até lá fora e outra dupla estava lá. Tinha acontecido apenas o maior mal entendido da história.
-O que você está fazendo aqui? – Arregalei os olhos ao ver.
Vamos voltar um pouquinho no tempo para entender. Quando a Raquel me indicou para a Katia, deu todas as informações sobre mim, inclusive características, e o marido estava com ela nessa hora. Carlos era um cara grande de voz grave, mas aparentemente bastante simpático. Porém, quando foi marcada a entrevista no restaurante, ela chegou na hora e me viu do lado de dentro do local e começamos a conversar. Logo após chegou ele, que só estava ali para beber mesmo, mas a palavra “emprego” nesse momento do país é a razão do desespero de todo mundo. Então, Carlos achou que Kátia não tinha aparecido para ver o cara que a Raquel indicou e resolveu conversar por ele mesmo achando que aquele era eu. Mas aquele... Aquele era meu irmão gêmeo, Max.
-Achei que você estava em Nova York, o cara chegou falando de emprego, sabe como é, né? – Sorriu amarelo.
-Senhor Carlos, eu sou o verdadeiro... – Disse meu nome. – Que a Raquel falou para vocês! Esse é meu irmão gêmeo e eu não sei o que ele está fazendo aqui! Eu já não o via muito desde os tempos de faculdade!
-Espera, não pode ser! – O grandalhão pareceu estar decepcionado. – Eu e ele estávamos conversando sobre futebol, mulheres e, bom, como os garotos devem ser, e ele sabe bem como os garotos funcionam, o que eles querem, e ele parece uma boa influência para os meninos! E torce para o meu time! A Raquel não vai se importar de...
-De jeito nenhum! – Kátia berrou. – Eu não abro mão dele! – Se referiu a mim. – Ele entende tudo sobre as crianças, tem experiência no exterior com crianças americanas e trabalhou por anos com o menino da minha melhor amiga! Não tem a menor possibilidade de a gente deixar nossos filhos um ano com um cara que você conheceu no bar!
-Eu também não abro mão do Max! Ele é o cara que todo moleque adolescente sonha em ser e é esse exemplo que eu quero para o Theo e para o Lucas!
-Você acabou de conhecer ele!
-Você acabou de conhecer esse aí também!
-Carlos, eu não vou brigar com você agora na rua, mas nós temos que decidir isso para partir amanhã à noite para a capital! A gente vai ter que decidir agora, porque não dá para contratar os dois e eu prometi para a Raquel que eu ia dar o emprego para o moço que ela pediu!
-Mas eu prometi para o Max que o emprego era dele, principalmente se ensinasse para o Théo o que é um vinho de verdade e como pegar uma safada de jeit... Como falar com garotas, você sabe!
Então, os dois se afastaram para falar em particular. Sendo assim, me aproximei do Max. Ele, ao contrário de mim, usava um boné de aba reta, óculos escuros na gola V da camisa, um brinco na orelha e toda uma atitude solta e uma lata de cerveja na mão, sendo que nunca bebi e nunca fumei. E eu não podia acreditar que ele ser babá estava sendo cogitado, porque ele era só a pessoa mais errada do mundo para assumir! Mas não tinha como acontecer! Se Kátia era minimamente inteligente, ela não ia concordar com aquela loucura, e...
-Certo, já decidimos! Vamos contratar os dois! – Ela avisou. – Bernardo, sei que pode cuidar de tudo para mim como a Raquel prometeu, e sei que o seu irmão pode ajudar, já que vocês convivem desde... Sempre, não é? Pode ser assim?
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