-Cara, você está há duas horas sentado jogando isso! Não deve mais nem estar sentindo a bunda nessa cadeira, né? - Lucas reclamou.
-Me cobre, Dani! - Disse ele para o amigo com quem jogava um jogo de tiro online no headset.
-Eu é que vou te cobrir de p#rrada daqui a pouco! Não virei teu anjo para passar esse tédio, não!
Uns três dias tinham se passado desde o fatídico dia em que se conheceram. No primeiro dia João tentou ignora-lo como se nada tivesse visto. Mas a situação foi ficando insuportável para igmorar. Insuportável tipo Lucas se deitando em cima da mesa na hora do jantar e cobrando:
-Quanto mais vai me fazer esperar para mexer essa bunda e fazer tua vida andar?
Ele então tirou o headset e olhou para o anjo sentado na cama.
-Tá bom, já que você vai ser meu anjo, vamos ter que seguir umas regras! Primeiro, você fica lá no céu fazendo suas coisas de anjo e só vem quando eu chamar!
-Coisas de anjo? Que coisas de anjo? A internet celestial? Nem o Facebook tem! Cara, lá é tão restrito que o maior influencer lá é o Gugu Liberato! Era a vera verão, mas ele já chegou sentando na janelinha! - Riu-se.
-Mas a coisa mais humanitária da internet é o acesso fácil e rápido a p#taria!
-Pois é! Mas lá tu só vê um peitinho se casar com a benção do maninho JC, mas vai ser o mesmo peitinho por toda a eternidade!
-E as coisas boas da vida?
-Prostitutas, bebidas, drogas e pornografia? Você sabe onde tem isso! - Piscou.
-E porque não vai para lá?
-Já não tá quente demais essa cidade, não, palhaço? - Riu-se.
Aquela foi a primeira conversa bacana que tiveram e o início de uma amizade, quando perceberam que não são tão diferentes assim. Mas não foi fácil.
-E o Tinder?
-Já tem uma garota que eu gosto!
-Já falei para não confiar em gente da internet! Você vai atrás da ruivinha23, quando vai ver o nome dela é Claudio, ela tem 58 anos e o 23 é centímetros! Não que já tenha me acontecido, é claro! - Riu-se.
-Na escola!
-Ah, ta! Ok, vai me levar para conhecer!
-O que? Porque?
-Confia no pai, moleque! - Tocou seu ombro. - Confia no pai!
No dia seguinte, estavam na escola. E a escola era uma clássica escola de ensino médio onde tinha gente no intervalo fazendo tudo: Se pegando, subindo no teto, jogando baralho, comendo salgado, usando drogas, um povo transando debaixo da escada... Eu falei "comendo salgado"? Sério, juro pelo maninho JC que tinha gente assim!
Até que alguém esbarra de propósito em João. Era o maior e mais forte "Dogrão da Sul"! Isso mesmo! Apelido que adolescente drogado se dá na esperança de que alguém entenda "da Suh!" e ache que esse é o apelido da mina que ele pega! Tava até tatuado no braço dele!
-João, meu brother! - O abraçou. - Trouxe um lanche?
-E-eu devo ter uma maça!
-Para de ser pobre, seu b#sta! Tem nem um lanche aí, não? De repente um Subway de trinta centímetros?
-Olha, gente! - Lucas apareceu no ar, anunciando. - O Dogrão quer trinta centímetros na boca dele!
Foi ao som de trezentos "vixi!", "ô louco, mano!", "eu não deixava", "xingou a mãe!" (Sim, disseram isso também! Falei que usavam drogas!) que Dougrão desfocou do João e foi para cima do Lucas.
-Quem é você, seu m#rda?
-Novo monitor do corredor! Partiu fazer o babaca lá com a diretora?
-N-não, mano! Eu só tava zoando!
-Acho bom! E para de tomar bomba! Tá te deixando burro para c#ralho, ainda mais com essa tatuagem aí!
Dougrão então se retirou de fininho ao som dos risos discretos de todo mundo em volta.
-Cara, isso... Foi incrível! Espera, isso de monitor, tu vai aparecer para todo mundo?
-Eu desci foi para arrasar, meu Brother! - Piscou.
E foi assim que começou o maior giro da vida do João. Giro mesmo, de cabeça para baixo!
[Continua]
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