Da redação #01: O Cágado


   Quem acompanha o blog há mais tempo sabe que uma das razões de eu escrever aqui, ainda mais agora nessa quarentena forçada por causa do Corona Virus é porque tenho transtorno de ansiedade e o blog para mim é uma auto-terapia que faço desde dezembro de 2016. Sim, esse ano o blog fará quatro anos. Foi muito rápido.
   Mas as vezes acontecem coisas, comigo ou com o mundo, que tenho necessidade de escrever, sei que o blog é por definição o lugar para isso, mas não consigo fazer piada com algo. A louca da Jenny Lawson, minha maior inspiração, também mesclava fazer piada e falar sério, e por sinal melhor do que eu. E esse quadro vai servir para isso. E o nome "Da redação" é para dar uma idéia de bastidores, do que acontece realmente por trás das piadas do blog, do ser humano por trás do palhaço.
   Hoje (21) aconteceu uma coisa peculiar. Um dos meus vizinhos aparentemente achou uma tartaruga machucada na rua. Estava suja e ninguém a queria. Em princípio não queria, mas peguei.
E do momento que pus os olhos nela não parei mais. Entrei em grupos sobre bichos e tartarugas, li artigos e fiz tudo, tudo que foi possível para salva-la, inclusive me humilhei em pedir comida para os vizinhos para ela.
   É um cágado, na verdade. Estou mantendo numa bacia com água, alimentando, já dei uma limpada nele, e está bem melhor agora. Mas é engraçado como as vezes a gente se derruba por detalhes. O primeiro é que uma pessoa me ofendeu sem razão em um grupo de tartarugas em público e no privado, e segundo porque, apesar de tudo o que estou fazendo pelo bicho, provavelmente além de muito custoso pode ser proibido mantê-lo em casa. E isso me deixa um pouco com a sensação de que sou meio inútil. De que fiz tanto, perdi a tarde inteira e metade da noite, e vou abandona-la num riacho qualquer amanhã. Faz sentido para vocês?
   Enfim, é isso. Eu atualizo vocês. E segue foto da bichinha:



   ATUALIZAÇÃO 23/03: Aconteceu uma coisa ontem que eu realmente perdi a compostura, gritei e chorei. Eu fiz tudo o que pude por ela, durante algumas horas não pensei outra coisa que não fosse fazer tudo para essa tartaruguinha, que chegou para mim machucada, suja e desamparada, poder viver. Até que, na primeira distração, depois de deixar ela no chão do meu quarto explorando, com a porta fechada, começo a ouvir os latidos insistentes do meu cachorro. Quando vou ver, sim, era com ela que ele estava latindo. Algum irresponsável abriu a porta do meu quarto e ela escapou para o quintal. Surtei, gritei com todo mundo aqui em casa e o pior é que tive de admitir: Eu não vou conseguir salva-la se ela ficar aqui. Não consigo, além de custoso não moro sozinho e ninguém estava disposto a assumir o mesmo compromisso que assumi de salva-la, e cedo ou tarde isso ia acontecer de novo, e ou meu cachorro ia terminar por mata-la ou ela ia voltar para a rua. Então, fui com um parente em um riachinho numa mata fechada e a deixei lá.
   Foi a melhor coisa que eu podia ter feito por ela e a confirmação veio na hora em que ela viu água corrente natural: Começando a mexer todos os membros com empolgação, como que sentindo que estava em seu lugar, ou pelo menos, assim gosto de interpretar para tentar ser otimista.
   Enfim, a vida segue.

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