Pequenos Americanos #07: Mistério em Coney Island - 3 de 4


   -Eu espero não estar incomodando, Maurício!
   Estávamos no hotel. Eles tinham acabado de voltar de um restaurante onde jantaram, assim como nós. Mas me dei liberdade para ir a outro quarto. O do Mauricio.
   -Nem vem, eu sei que você não dorme cedo e sua reunião com investidores é no meio da tarde! - Avisei, não querendo dar chance a ele de dizer não.
   -E eu sei que você veio falar sobre o Pedrinho!
   -Quando foi que a gente ficou tão previsível um para o outro?
   -Quando você trabalhou para mim como babá dele a gente se via todos os dias e nós dois cuidávamos do Pedrinho, foi quase um casamento, faz algum sentido! Olha, ele está vendo TV! - Mostrou, me abrindo caminho.
   Palavras nunca iam bastar. O lance é que todos os dias eu pensava no Pete. Quando tinha dito, no dia em que saí do apartamento deles, que em algum momento deixei confundir o pai e o babá e então já não sabia mais administrar as coisas como elas eram, não tinha sido uma maneira de dizer. Quando fazia tudo o que fazia pelo Noah e pelo Oliver, minhas host kids, uma parte de mim ainda sentia uma certa angústia de não poder fazer o mesmo pelo Pete. Quatro longos anos desde que inventamos esse apelido para ele. Para apenas dois meses que eu estava morando e trabalhando em Nova York. Não era tão simples deixar ir embora.
   -Não me entenda mal, mas foi um pouco rápido hoje mais cedo no Nathan's! E o garçom queria muito falar da competição de comer hot dogs!
   -É claro, nada dá mais dinheiro para eles que isso! Mas vai antes que ele durma!
   Me aproximei e me sentei na cama com ele, sob o olhar de Maurício. Raquel estava completamente capotada na cama. Toquei o ombro dele.
   -Tio! - Sorriu, me abraçando.
   -Você e sua família vão mesmo vir atrás de mim uma vez a cada seis meses? - Eu ri.
   -É você que vem atrás da gente sempre que a gente viaja!
   -Acho que eu não posso argumentar com isso! - Eu ri.
   Ele já estava quase fazendo nove anos e tinha ganho uns oito centímetros de altura desde que eu deixei o apartamento, mas quase nada havia mudado em quem ele era. Mas, então, me veio um estalo.
   -Não jantou hoje, né?
   -Não! - Disse, orgulhoso. - Quero meu estômago vazio para os hot-dogs amanhã!
   -Bem, deve funcionar! - Ri novamente. - Bem, eu preciso ir, meus meninos precisam de mim em casa!
   -Tio... - Ele segurou minha mão quando eu ia levantar. Me olhou com os olhinhos tristes. - Por favor, volta para casa com a gente!

   * * *
   E enfim, tinha começado o concurso, na tarde do dia seguinte. Pete, Noah, o garotinho loiro do casal Parker e mais uma garotinha estavam lá em cima do palanque, sendo que cada um deles estava sentado a uma mesa cheia de hot dogs, e de um lado, um responsável (respectivamente o moço novo do casal Parker com o filho, Maurício com Pete, eu com Noah e a garotinha com o grande e gordo pai, com a camisa com estampas realistas em mosaico de hotdogs. E embaixo uma base de três mil pessoas prestigiando.
   -Três! Dois! Um! VALENDO!
   E começaram a comer, mas nenhum deles se comparava com Pete: Comendo como um esfomeado como se não houvesse amanhã, e até percebi um dos paramédicos ali presente engolindo em seco. Nem os adultos tinham essa voracidade geralmente.
   -Três! Dois! Um! PAREM! - Soou um apito estridente, ao final dos tradicionais dez minutos.
Em seguida, os fiscais começaram a contar os hotdogs que restaram e anotar. Mas algo estranho aconteceu. Mesmo com a ausência de guardanapos, a boca da garotinha sequer parecia estar suja, e mesmo assim...
   -Com a marca espetacular de 82 hotdogs, na competição infantil do tradicional concurso de comer hotdogs, vence Lauren Mayer!
   Ao mesmo tempo, pude ver o olhar de desconfiança do pai do garoto loiro do outro lado do palanque. Também ele havia percebido que havia alguma coisa errada naquele resultado. Visto que superava inclusive os adultos em toda a história do concurso. Isso não ia acabar bem!

   .
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