O lado bom de trabalhar na creche onde eu estava é que ali nós tínhamos contato e éramos responsáveis por crianças de todas as idades entre dois e meio até cinco anos, antes de eles irem para a escola. E com os de dois anos a gente tinha missão árdua de ensiná-los a controlar o esfincter (o músculo que segura o cocô e o xixi) a fim de que a criança chegue no que podemos chamar de conquista da liberdade, aquilo que identifica os carinhas mais legais do maternal: O desfralde! Era a independência, a liberdade de poder peidar sem nada voltar para você! Mas torná-los, como eu disse, os garotinhos mais legais do maternal incluía que a gente os ensinasse a pedir para ir no banheiro, a dizer "Tio, xixi!", e então nós levávamos.
O mais engraçado: O Giulio se aproximava da Carla, olhava para ela como quem não quer nada e... Baixava as calças.
-Vai nem pagar o jantar? - Não resisti a dizer da primeira vez que aconteceu. Nessa, a Carla levou alguns segundos para se recompor.
-Você quer fazer xixi?
Fez que sim com a cabeça. E o mais divertido é que isso se repetiu por bastante tempo em loop, mesmo a gente dizendo todos os dias para os pequenos dizerem "Tio, xixi!", e ele falava, pouco mas falava. Aí pronto! Eu não ganhava o suficiente para ter que assistir o semi striptease do nudistinha, mas a gente tinha de insistir para ele aprender a pedir, o que levou tempo! Sim, pode rir da minha desgraça, você já entrou nesse blog para isso, né?
* * *
-Nossa, ta muito gostoso!
Eu me esforçava, enquanto estava com as crianças na areia, para fingir a maior empolgação possível com os bolos e tortas que eles faziam. Eles inventavam os sabores e me provar e dizer se ficou bom, e eu não tinha a menor coragem de estragar a fantasia deles e fazer a Pala Carosella: "Hum, é um prato interessante, eu gosto da textura arenosa e a cobertura bem granulada, mas acho que hoje não!". Então, sempre dizia a mesma coisa:
-Nossa, que gostoso!
As vezes até pedia para fazerem de outros sabores, mas na tringentésima (finjam que esse número existe!) vez em diante, a coisa começava a ficar meio tediosa. Numa dessas era o Bill, de dois anos e meio, quem estava fazendo os bolos para mim. E se fossem bolos de verdade eu já poderia me fantasiar de Mamma Bruschetta no carnaval naquela altura, só com os infinitos bolos do Bill. Foi quando o Giulio se aproximou, e eu aproveitei.
-Bill, dá para o Giulio provar o seu bolo agora!
Ele então obedece e dá a pazinha com areia para o Giulio. Eu achei que Giulio estivesse ligado nas paradas do high society do maternal e estivesse entendendo a brincadeira. Pensei cedo demais. Ele me enfia a areia na boca e engole antes que eu possa gritar para parar. E eu tentei. Deus sabe que eu tentei mas já era tarde. Bem, por sorte não aconteceu absolutamente nada com ele e vai ficar bem. Ou pelo menos, ninguém nunca vai saber que foi minha culpa!
Agora, a minha revolta com isso, é que ele não pensou duas vezes para meter a boca na areia como se estivesse peregrinando há dias no deserto e tivesse realmente visto ali uma miragem de comida, mas na hora de comer mesmo era uma vida! E hoje eu me pergunto se era a gente ou esse garoto é que era underground demais para os nossos padrões!