Acordei com dor nas costas na cadeira dura do quarto de hospital. Nathan dormia tão tranquilo na cama alta do quarto, próximo de mim que, apesar do horário, nem me preocupava em acordá-lo. A mãe dele chegou a vir visita-lo e se mostrou preocupada, mas disse que não tinha como passar a noite ali com ele, e me implorou para ficar ali. O que era uma pena, porque realmente queria voltar para os meus meninos como estava acostumados. Mas, toda vez que olhava para Nathan dormindo me lembrava que ele podia ter sido um dos meus meninos, e naquele final de semana, ele era, portanto, eu tinha um compromisso também. Por mais que minha coluna não estivesse gostando muito disso.
E ver ele dormindo ali me fez pensar: Se o Pete estivesse aqui, o que ele faria?
-S-senhor... - Disse meu nome. - Ainda está aqui?
-Você é um dos meus meninos até o final de semana acabar, e isso significa que rigorosamente nada vai me fazer sair daqui! Como está? Se sente melhor?
-Sim, estou bem!
-Vai poder sair logo, assim que o doutor vier mais tarde e confirmar que está tudo bem! Mas da próxima vez, tem que ter mais cuidado! Pode não ter alguém legal por perto para te levar ao médico, mas eu estava pensando enquanto você não acordava, a gente tem algo em comum!
-O que quer dizer?
-Ontem você me pediu desculpas, mas você não me deve. Sinceramente, eu com certeza teria feito o mesmo e acabado da mesma forma. Você, como eu, gosta muito de crianças e esquece de si mesmo quando está com elas, e por isso o Noah gosta tanto de você!
-Bem, sim! Queria ter a mesma sorte com o Oliver!
-Quer conversar?
-Preciso, mas com ele!
-Tudo bem, mais tarde estaremos em casa! E o Noah vai te achar bem elegante com esses bigodes de foca! - Sorri, mostrando o canetão preto que encontrei. Sim, é isso que Pete faria.
-O que? Ah, meu deus, isso sai, não é?
-Não tão cedo! - Sorriu. - Como eu disse, nesse final de semana eu sou seu au pair então considere esse o seu castigo por não ter me contado sobre o seu coração!
-Espera, mas você disse que no meu lugar também faria isso!
Filho da mãe.
* * *
-Desculpe, porque vocês dois tem bigodes de gato nos rostos?
-Não é de gato, é de foca! - Nathan explicou.
-Longa história, doutor! - Sorri. - E então?
-Você me faz querer ser cego do meu olho bom!
-E bom do olho cego? Não, né? Tá, eu vou ficar quieto!
-Surdez agora também não parece ruim.
Ele apenas passou por mim, e se aproximou do Nathan, já sentado sobre a cama esperando para ir.
-Como foi a noite?
-Tranquila. Tive um pouco de medo, mas tudo bem.
-Um pouco de ansiedade é bem comum em cardiopatas. Pode tirar a camisa, por favor?
-É claro.
Ele obedeceu. Ver o seu peito despido foi uma surpresa. Ele tinha o que parecia ser um segundo orifício, como se fosse outro umbigo, no meio do peito. Com certeza foi alguma cirurgia pela qual ele teve que passar quando era bebê, tanto que o médico não perguntou nada. Apenas encostou o estetoscópio em alguns pontos de seu peito e suas costas e ouviu calmamente. Em seguida, pousou a mão em seu ombro.
-Olha só, pirralho, eu raramente sou sincero dessa forma, mas adolescente na minha experiência só entende de uma forma. Tá afim de morrer e ser lembrado como um belo de um imbecil com bigodes de gato?
-Foca! - Não resisti a corrigir. Ele me fulminou com o olhar. - D-desculpe!
-Então? Morrer como um imbecil com bigodes de foca, parece bom para você?
-Anh, não senhor!
-Então você sabe o que tem que fazer! Por deus, moleque, é um autorama! Como consegue ficar cansado brincado de autorama? Não dava para pegar mais leve?
-Não, doutor! - Intervi. - Ele... Estava me ajudando a cuidar de um garotinho! Não existe pegar mais leve quando você lida com crianças, e o senhor com certeza não deve ter filhos, porque se não saberia disso! Nathan, quando pequeno você devia vir para o hospital toda semana, não é?
-Sim, senhor!
O médico se cala por um instante e em seguida apenas se aproxima da porta.
-Já pode ir para casa! Mas se crianças são um problema para você, então evite! É assim que a gente faz quando algo nos deixa doentes! - Ele se retira, em seguida.
-Que homem mais insensível! - Resmunguei, assim que o vi sumir no corredor. - Nathan, então já podemos... Nathan?
Ele chorava baixinho, de costas para a porta e portanto, para mim e para o doutor, se ele ainda estivesse aqui. E nessa hora tudo ficou claro na minha cabeça. Eu finalmente tinha entendido porque Ollie não gostava dele. Ser um cardiopata congênito, ainda mais com o coração delicado como o dele, tinha um preço muito alto, e com relação a Nathan se dar bem com crianças, mais ainda. E eu podia entender perfeitamente, porque enquanto os ouvia brincando no andar de cima, pensava em mim mesmo. Ele era um tio babá. Um tio babá nato. Do tipo que não teria medo nunca de subir numa caixa de areia para fazer um castelo para um garotinho e encher os sapatos de areia ou sujar a roupa. Agora, eu sabia o que precisava conversar com Ollie, e por sorte, já estávamos indo para casa finalmente. Mas naquele momento, Ollie não era quem precisava mais de mim. Me sentei na cama ao lado dele, e pousei a mão em seu ombro.
-Eu entendo agora, e acredite, vai ficar tudo bem! - Sorri. Em seguida, limpei suas lágrimas com a ponta dos dedos. - É melhor não deixar borrar os bigodes, né?
Minutos depois, estávamos voltando para casa no meu carro. Agora, tinha de fazer o meu trabalho como Au Pair. E tinha de terminar enfim o que foi começado.
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