Gente burra, açaí e coca-cola!


   Eu costumo dizer que tenho toda paciência do mundo com crianças. Tenho mesmo, porque é meu trabalho e porque eu acho que se uma criança for astuta que nem uma porta, ela tem o direito porque ainda é pequena. Não por acaso esses dias, andando com a minha sobrinha de três anos, ela caiu de leve, machucou o joelho, mas na hora não sentiu rigorosamente nada e continuou caminhando toda serelepe comigo. Chega em casa, ela começa a chorar como se estivesse sendo torturada na Alemanha nazista e reclamar muito de dor no joelho. Eu acho espantoso um cérebro que leva mais de meia hora para processar e perceber que está sentindo dor, mas tudo bem, é uma criança.
   Mas adulto ser burro é um negócio imperdoável, inaceitável. Considerando aqui uma história que ouvi hoje, que aconteceu em algum lugar por aí, o que leva um ser, barbado, mais de vinte anos, a entrar numa lanchonete e perguntar: "Oi, bom dia! Tem um açaizinho vegano aí?"?. Para um ser adulto perguntar uma p#taria dessas eu tenho duas alternativas.

   1- Pegadinha de algum canal de youtube ou de televisão!
 
   2- O ser simplesmente não está apto a pisar nem fora do útero da mãe dele sem correr um sério risco de acabar se matando por aí! Ou fazendo alguém matar!

   Mas, quando você é assalariado e depende daquele emprego para pagar as contas do mês, você se segura, respira, guarda no bolso a vontade de tacar a cadeira no infeliz e explica.
   -Senhor, tecnicamente não existe açaí vegano, porque o açaí...
   Ele então bruscamente te interrompe.
   -Como não existe? Eu comi lá em Botucatu!
   Os dedos da mão começam a abrir e ela começa a tremer loucamente para chegar na face do imbecil enquanto você fica pensando num jeito de explicar que o máximo que pode ter acontecido em Botucatu é ele ter sido feito de trouxa caído em algum tipo de golpe. Aí você desiste e simplesmente mente para o cara que não tem açaí vegano na sua lanchonete, porque se aquela conversa continuasse por mais tempo claramente ia acabar rolando um homicídio!
   Ok, mas aí no outro dia você está lá nesta mesma lanchonete, servindo as mesas, e aí um cara te chama e te mostra uma lata de coca-cola com o nome de uma moça que está umas duas mesas a frente (na época da promoção) e te diz para entregar para ela com seus cumprimentos para mostrar que está interessado nela. Patético e piegas com força, mas você precisa do emprego.
   E aí você vai até a moça, serve a latinha na bandeja, com os cumprimentos do cara da outra mesa, com o nome dela. Ela olha a latinha por uns dois segundos e em seguida olha para você e diz:
   -Eu não sei que tipo de brincadeira é essa, moço, mas eu não me chamo coca-cola!
   Não importa o quanto você odeia matemática, seu cérebro nessa hora automaticamente calcula a trajetória da sua mão dominante até a cara da pessoa. Porque por trás de cada adulto desse tipo que tem a sagacidade de uma porta, há uma família irresponsável que deixou ele sair do útero sozinho e arriscar a própria vida. Mas por via das dúvidas, você apenas se vale da boa e velha ironia:
   -Você devia viajar para Botucatu, moça! Tem um açaí vegano do bom lá!
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