Começou quando o Pete resolveu trazer para casa um amiguinho da escola, para brincar junto e passar a noite ali, e no dia seguinte eu levaria os dois para a escolinha no carro. E o tal do Lucas, por sinal o mesmo que meses mais tarde co-protagonizaria com o Pete aquela confusão no teatro, insistiu com a mãe dele para vir e a Raquel achou a ideia o máximo, o que significava que a opinião do Maurício não tinha mesmo a menor importância. Mas só por curiosidade, resolvi perguntar.
-O que acha disso, Maurício? - Perguntei, quando ele chegou e viu os dois no tapete.
-Eu acho que vai ser legal para ele, mas é estranho, ele nunca se importou de ficar sozinho no apartamento nem nada. E de repente quer trazer esse garoto? É um tanto estranho, né?
-Qual é, Maurício? Ele fez um amigo, está aprendendo a socializar! Ou você acha que ele vai ficar só no meu pé a vida inteira?
-Não tem peça para fazer o navio! - Lucas reclama, interrompendo nossa conversa.
Ambos se levantam.
-Eu tenho mais peças no quarto, vem! - Pete puxa ele pela mão para ir pegar mais lego. Eu tinha dado um novo saco de legos para ele há poucos dias. Era esse novo saco que ele levou o Lucas para buscar. Observando aquilo, Maurício me chama pelo nome.
-O meu menino... Acabou de levar... Aquele outro garoto... Para o quarto dele... Segurando na mãozinha? Eu vi mesmo o que eu vi?
Eu tive de fazer um esforço sobre-humano para não cair na risada! Aquilo não podia estar acontecendo! Foi a poucas semanas que Maurício tinha visto Pete dar de mamar a boneca que a Marina esqueceu no apartamento, e agora estava com medo do amiguinho do filho?
-Maurício, crianças fazem isso! Pete está empolgado em mostrar o novo saco de legos dele e quer que ele venha logo, por isso puxou ele pela mão! Seria errado ele ir empurrando o Lucas até lá, não é? Além disso, nenhum dos dois tem idade para você se preocupar com isso! Olha, eu preciso ir que está na minha hora, antes que você tenha que me pagar hora extra! Até amanhã!
-Até amanhã! - Respondeu, me chamando pelo nome, me vendo atravessar a porta.
Quando voltei no dia seguinte pela manhã, os dois estavam arrumadinhos para eu levar os dois para a escolinha, como combinado. Maurício, pronto a sair, se aproximou.
-Foi tudo bem com eles essa noite? - Perguntei. - Quer dizer, eu imagino que com um amiguinho no colchão do lado da cama ele não quis dormir tão cedo, né?
-Que?
-Ah, eu te assustei, né? - Ri.
-Eles... Devem ter conversado um pouco antes de dormir, nada demais. - Respondeu, já percebendo o quanto eu estava tirando um sarro da cara dele. - Até a noite!
Levei os meninos no carro. Em geral, buscava conversar sobre qualquer coisa com o Pete nos vinte minutos de trajeto todos os dias, mas como dessa vez ele tinha um amiguinho com ele, achei justo deixar os dois conversarem entre eles enquanto ia ouvindo. Principalmente porque, de certa forma, era despedida, Lucas voltaria hoje para casa. Então fiquei apenas ouvindo os dois.
-Ontem foi legal, não foi? - Perguntou o Pete.
-Foi sim! Você tem uns legos legais! Eu quero voltar ainda para a gente terminar o navio! Você tem peça grande para fazer as chaminés, não tem?
-Eu tenho! Você não viu, né?
Mais tarde, quando Maurício chegou no apartamento, ao anoitecer, eu simplesmente não podia perder a oportunidade:
-Sabe o que o Lucas disse para o Pedrinho no carro? - Me aproximei e sussurrei. - Na próxima ele está louco para ver o lego grande do Pedrinho!
-O QUEEEEEE?
Quase fui demitido nesse dia, mas fazer piada da situação foi um jeito bem inteligente que consegui de fazer o Maurício desencanar disso e deixar o Pete socializar em paz com os amiguinhos quando houvessem essas oportunidades, e funcionou tão bem que no episódio do teatro ele nem encanou como eu achei que faria. A vida é uma coisa, né?
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A partir de hoje começa uma nova temporada no blog, mudamos todo o layout e o tema, e vamos voltar a postar as crônicas no horário habitual, as 18:30 todas as segundas e sextas feiras, começando por hoje!
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