Enquanto eu ainda trabalhava para o Maurício, houve uma certa vez em que a irmã dele, Bete, apareceu no apartamento anunciando que ia se casar em poucos dias e tinha que organizar as coisas o quanto antes. Ela pediu Pete emprestado como cavalheirinho de honra. Digo cavalheirinho porque tanto ela quanto Raquel se recusavam a usar o termo Pajem, e eu assinei embaixo. Uma palavra feia demais para algo tão bonito.
-Tá de brincadeira, né, Maurício? - Exclamei, ao chegar no apartamento de manhã.
-Não, eu acho que vai ser legal para ele! Vai entrar junto com a Marina e vai levar as alianças! Olha, vou deixar o meu cartão da loja com você hoje! Leva ele para alugar um terninho mais tarde, tá bom?
-Eu vou fazer o possível para convencê-lo a não ir de homem aranha, prometo! Mas garanto que vai ser uma longa noite!
* * *
Algumas horas depois, logo depois de eu busca-lo na escolinha e almoçarmos, tratei de apronta-lo para ir alugar o terninho. Eram mais de duas e meia da tarde, sol forte, mas era um trabalho que alguém tinha que fazer.
-Então, você vai entrar junto com a Marina na cerimônia um do lado do outro como se fossem vocês casando, que a tradição é desejar o mal para as novas gerações! - Expliquei, no carro. - E aí, na hora certa você vai levar as alianças para os seus tios!
-E se ficar apertado no dedo deles?
-Seu tio Carlos comprou, o mínimo que se espera é que ele saiba o tamanho do dedo da sua tia Bete! Mas se não couber, é mera formalidade, ele vai ama-la assim mesmo! Ah, a Marina vai estar bem bonita e vai levar um cesto com pétalas de flores para ir jogando no caminho dos noivos!
-E você?
-Eu? Eu to de mal com o seu pai que teve a pachorra de não me indicar para cantar! Mas eu vou estar por perto, tá bom? - Para o bem da reputação social do Maurício!
* * *
Depois de uma semana, chegou o dia da cerimônia. Eu estava com o Pete e com a Marina usando meu colete e uma das gravatas que tinha em casa. Pete estava elegantíssimo com o terninho.
-Ta quente! - Reclamou.
-Tem ar condicionado lá dentro. - Ainda bem! - Vocês entenderam, né? A hora que eles chegarem vocês entram primeiro em silêncio jogando flores no caminho deles enquanto sua irmã vai atrás carregando a barra do vestido da sua mãe!
-Porque o vestido tem que ter isso? - Marina perguntou.
-Para o casal saber para que servem os filhos! Eu vou lá me sentar com os convidados!
Entrei no salão de festa. Logo, os noivos chegaram e nós vimos Pete e Marina entrando na frente deles bem como combinado enquanto o avô dos dois levava a tia do Pete para o altar. Mas era o Pete, e com ele, um furacão sai de um sopro. Uma das pétalas de rosas voou no rosto dele por acaso.
-Ei!
Ele pegou um punhado da cesta e jogou no rosto dela.
-Isso não vale! - Bufou, para meia cerimônia ouvir.
-Pastel! - Respondeu ela. Temos que adimitir, é um xingamento bonitinho.
Então ela também joga um punhado de pétalas de rosas no rosto dele e no outro segundo estão fazendo guerrinha de pétalas na frente de todo mundo.
Corri para lá para tentar ajudar e segurei o Pete pelos braços enquanto a Raquel acalmava a Marina.
-Uma linda roseira morreu por nada! - Sussurrei.
-Foi ela que começou!
Marina ouviu.
-Não, foi você!
-Ok, vocês dois!
A Raquel intervém e puxa os dois para fora do tapete vermelho, deixando a noiva e seu pai passarem. Fui junto.
-Certo, esqueçam as pétalas, já desperdiçaram todas mesmo! - Ela disse.
-Na hora que eu te der o sinal você vai levar as alianças! - Sussurrei para ele. - Até lá, fica aqui comigo!
* * *
Depois de um longo discurso do padre, o casamento finalmente avançava.
-Aceito!
-Se alguém aqui presente tem algum motivo para que este casamento não siga em frente, fale agora ou cale-se para sempre!
-Eu! - Pete berrou.
-Você tá maluco? - Sussurrei.
Quando eu vi, alguém trazia um microfone obedecendo a um sinal do padre, que deve ter achado cômica a situação.
-Este casamento não deve prosseguir? - Pergunta a voz grave do padre.
-Nah! Tá tarde e eu tô com sono!
Não tinha como saber quem podia estar mais constrangido ali, se eu, Raquel, Maurício ou os noivos. O padre apenas riu e deu sequencia a cerimônia.
-Se ninguém mais tem nada a declarar, o pajem da cerimônia pode trazer as alianças! - Anunciou.
Entreguei a caixinha na mão do Pete e avisei.
-Sua vez! Vai até lá sem correr, dá na mão dele e volta para cá!
Ele então se levantou e caminhou até os noivos, subiu os degraus do púlpito e entregou as alianças. Então, puxou o vestido da noiva de leve.
-Tia, o tio - Disse meu nome. - falou que não tem problema se a aliança não servir, ele ainda te ama!
Ela olhou para mim do púlpito, confusa. O microfone tinha pegado e todo mundo ouviu. Eu não sabia onde pôr a cara. Pete repetiu minhas palavras exatamente do que eu falei. Mas fez parecer que "ele" era eu.
Fui obrigado a me desculpar com os noivos na primeira oportunidade. E por via das dúvidas avisei o Maurício: Hora extra em eventos sociais ia custar o dobro dali para a frente! Principalmente se o casamento fosse meu!
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Sim, senhores! Ninguém nunca disse que as histórias do Pete acabaram! Rs
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