Pequenos Americanos #05: Pegadinhas


   -O que aconteceu aqui?
   Um belo dia, do nada eu chego na sala de estar depois de ouvir um grito do Noah e ali estão os meus dois meninos. Enquanto Ollie ri muito com um balde grande nas mãos, Noah está chorando, ensopado como se tivesse atravessado uma enchente e o chão está também molhado, principalmente perto da porta. A clássica.
   -Era uma pegadinha para a internet! Admita, foi engraçado! - Disse Ollie.
   -Não foi! - Noah protesta, com a voz embargada.
   -Internet?
   Ollie aponta a câmera sobre um móvel. Filho da mãe.
   -Não, nem pensar! Você está proibido de postar isso! Não foi legal!
   Certo, eu tinha segurado o riso. Só costumava ver isso em vídeos na internet, onde podia rir. Mas não podia deixar Noah se tornar um desses. Pelo bem do meu emprego e do Ollie também.
   -Vai buscar um rodo! - Ordenei. - Eu vou subir com o Noah para ajuda-lo. Se essa sala não estiver limpa e meia hora você não vai sair com sua namorada hoje!
   Ollie disse que conheceu uma garota durante o ano novo e que se deram bem. Ou seja, só eu não beijei ninguém naquela casa, para variar. Noah é muito pequeno, não conta. Mas se ele fosse maiorzinho acho que perderia para ele também.

   * * *
   -Como isso começou? - Perguntei, enquanto enxugava Noah, sem a camisa molhada, com uma toalha.
   -Eu não sei, quando abri a porta o balde caiu em cima de mim e me molhou todo!
   -Ollie não tem mais doze anos! - Ri.
   Pelo menos não foi tão desastroso como no episódio do ano novo. Se Noah tivesse ficado com fobia de água eu pedia demissão! Ia ser demais para minha cabeça! Eu sou só um Au Pair, gente!

   * * *
   -Não acredito que seu irmão ainda não desceu! - Pergunto a Noah, que esperava seu prato na mesa.
   Horas tinham se passado. Era hora de servir o almoço dos meninos. Coloquei a salada sobre a mesa. De tomate e pimentão. Bem brasileiro como eles estavam começando a gostar.
   -Eu não lembro de ter posto ele de castigo. Deve ter ficado emburrado.
   Então, noto o alface na salada.
   -O Azeite! Espere um pouco, Noah, por favor! Eu esqueci de temperar a salada!
   Corro até a despensa e abro. E vem o inesperado. O que parece ser uma torta é atirada contra meu rosto e esfregada nele.
   -Bom uso do glacê, Ollie! - Ironizei com raiva.
   -O tio parece um fantasma! - Noah não se contém e começa a rir enquanto Ollie sai da despensa. Magro, conseguiu se enfiar no espaço entre as prateleiras e a porta.
   -Ah, foi engraçado!
   -Vai almoçar! - Mandei, enquanto limpava a região dos olhos com os dedos para poder enxergar. - E nada de postar isso na internet ou eu te processo!
   -Ninguém vai te reconhecer, cara-de-torta! - Zombou.

   * * *
   -Desculpa ter rido, tio!
   -Esqueça, não foi por isso que subi aqui com você! Notou que não coloquei o Ollie de castigo?
   Estávamos os dois no quarto novamente. Dessa vez, era para planejar a nossa parte nessa história.
   -... E depois eu faço o resto, tá bom?
   -Tá!
   -E essa é uma pegadinha do bem, porque não tem como ele se machucar, tá bom?
   Era isso. Noah e eu íamos ter a nossa vingança logo mais. Eu sei que podia ser meio infantil da minha parte, mas Ollie merecia, estava pedindo por isso desde manhã! Por isso desci as escadas sem ser visto por Ollie para ir fazer compras!

   * * *
   Ollie se arrumava com pressa para ir ao encontro com sua garota. Segundo ele uma menina linda da área central da agitada Nova York. Tinha acabado de sair do banho e, ainda de toalha, na pia, penteava o cabelo.
   -Ollie! - Noah sorrindo.
   -O que foi?
   -Me ensina a fazer a barba? - Se aproximou.
   -O que? Barba? Você não tem um pêlo no rosto! - Na verdade, nem Ollie tinha.
   -Mas eu vou ter um dia!
   -Mas esse dia não é hoje!
   -Você nunca faz nada comigo! Me dá atenção!
   Em seguida, Noah pega o pote de gel que Ollie usava e desce correndo as escadas, obrigando Ollie a correr atrás dele segurando a toalha. Noah foi brilhante ao improvisar o diálogo para trazê-lo para baixo. Então quando ele desce, eu apareço de debaixo da escada com uma máscara de rosto deformado realista com um grito de monstro. Ele começa a berrar e, no susto, corre para a saída mais próxima, sem notar que, no caso, é a porta da frente. E não sei o pior, se é que ele esqueceu a toalha no caminho, ou que aquela pessoa com quem ele se encontrou no ano novo esperava por ele atrás da cerca da rua. Se recompõe e se esconde nas mãos.
   -O-o que você faz aqui tão cedo? - Pergunta, totalmente sem jeito.
   -É você que está atrasado! - Sorri. Em seguida aperta o controle que abre o carro. Ouve-se os dois bipes. - Se quiser ir assim mesmo, eu não sou contra! - Faz aquele sorriso.
   -N-não, desculpe, isso é um mal entendido, depois eu explico! Me dá só dez minutos!
   Ele então volta para dentro.
   -Gostou da vingança? - Pergunto.
   -Tira isso!
   Tirei a máscara.
   -Quem é aquela pessoa? - Perguntei. - É sua namorada? É um tanto... Diferente... Do que eu imaginei.
   -Não, é só... Parente dela! Vai me dar uma carona, só isso!
   -Ollie, isso foi um aviso! - Sorri. - Eu fui babá de um garotinho que colocou guaraná no filtro de água para a avó diabética! Se isso continuar, eu vou tornar sua vida um inferno!
   -Tá bom, desculpa, eu prometo que não faço mais! Só manda ele me dar a toalha!
   Noah se aproximou com a toalha nas mãos.
   -E vai passar mais tempo comigo! - Fez bico.
   -Tá bom, o que vocês quiserem!
   Noah se aproximou e deu a toalha para ele, que se enrolou de imediato e subiu as escadas de volta para o banheiro. Foi realmente muito mais engraçado que o esperado, e com certeza Ollie ia cumprir a sua parte dali para a frente, até porque, eu com certeza guardaria aquela máscara se não fosse o caso.
   Olhei pela janela aquela pessoa esperando Ollie. Algo me dizia que ela ainda traria problemas.
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