Essa história aconteceu já faz alguns anos, e eu já até contei em um podcast de natal que tinha uma vez. Mas tenho que contar porque ela é bárbara, e foi a minha vingança contra o serviço privado que não funciona.
Eu estava aguardando para ser atendido na mini-agencia que a gente tinha no campus da universidade. Nessa época, estava resolvendo um problema mais complicado e tive que visitar o banco algumas vezes para ir resolvendo aos poucos. Era começo de dezembro se não me falha a memória. E das últimas vezes estava esperando sempre para ser atendido pela mesma funcionária de três que haviam ali, sendo que duas eram de pessoas físicas, e a outra prioritária de outros tipos de atendimentos. Não era porque fosse uma moça bonita nem nada assim, era porque ela sempre se lembrava de mim, e por isso nem perguntava o que era, já agilizava tudo para mim, e as outras moças sabiam disso, então nem me chamavam, ao me ver esperando. Mas, justamente naquele dia, ela resolveu que ia almoçar. Me disseram que ela estaria ali em quinze minutos e nada. E aquele era o horário normal de serviço dela.
E ali tinha uma cesta cheia com vários pedaços de panetone, aquele clássico mesmo. Eu sou suspeito para falar, mas eu amo panetone, principalmente se vier com uva passa, que eu acho uma delícia. Sim, eu sei que sou estranho, mas é isso que acontece. E como a moça demorava nos fundos do banco, eu comecei a comer o panetone.
Eu sei que pode ser um pouco grosseiro da minha parte porque era para todos os clientes, mas o banco estava quase para fechar, faltava coisa de meia hora, quase não tinham mais pessoas circulando ali. Então eu fui comendo, pedaço a pedaço. Eu só tinha intenção de parar quando a moça aparecesse para atender, ou quando a cesta acabasse. Uma das moças ainda me jogou um certo olhar sobre aquilo, mas não disse nada. Imagino o que pensou: "Alguém pelo amor de Deus tem que chamar aquela mulher se não esse moleque não vai deixar nem o cesto!". Provavelmente eu ia.
Por fim, ela não veio e eu detonei o cesto. De verdade, não deixei nem uma lasquinha. Chegou um velhinho e reclamou com um pesar na voz de quem não tinha comido nada o dia inteiro.
-Mas... Mas...
-Acabou o panetone, seu Olegário? Espera só um pouquinho que eu vou lá dentro pegar mais!
Acredito eu que alguma discussão aconteceu lá dentro, porque assim que ela saiu com um prato de panetone para o velhinho (e eu já preparando o estômago para a segunda rodada), a moça apareceu e me atendeu. Imagino que foi algo assim:
"-Para de comer essa m#rda agora e vai para lá que o seu cliente tá acabando com o panetone!
-Mas eu ia levar para a minha mãe se sobrasse! - Disse uma terceira!
-Lamento, acabei de cortar o ultimo lá, é por isso que eu estou desesperada!".
E de fato, logo ela me atendeu. Na hora que terminamos, a chefe dela, uma mulher mais velha, bem no estilo Rosana Hermann, olha para mim e diz:
-Da próxima vez, se ela não puder, todas nós estamos aqui, tá bom?
-Seu panetone é maravilhoso! - Sorri.
Eu não quero dizer que eu seja tão importante assim, mas curiosamente a moça foi remanejada para outra agencia depois desse dia. Coincidência interessante que podemos teorizar. E bem, este ano estou pensando seriamente em voltar só para ver se tem mais panetone, porque tava bom aquele ano.
Quase tanto quanto a sensação de estar vingado naquele dia!
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