Eis que um belo dia o Pete aprendeu na escolinha que se ele plantar uma sementinha e regar, depois de alguns dias vai nascer uma plantinha e essa plantinha vai gerar sementinhas iguais aquela que ele plantou. Inclusive ele até teve aula prática disso, plantando uma sementinha em um copo de plástico.
No dia seguinte, depois de voltar para a escolinha, enquanto ele via um desenho qualquer na televisão, como sempre, eu terminava de arrumar algumas coisas. Até que, ao tentar abrir o quarto do Maurício para poder varrer lá dentro, por alguma razão a chave não funcionou.
-Não é possível que só tem uma chave! - Pensei um pouco alto. O suficiente para o Pete ouvir da sala.
No apartamento do Maurício e da Raquel cada porta, principalmente os quartos, tinham uma chave. E naquele dia não sei porque razão o Maurício esqueceu a porta do quarto dele trancada. E a única chave que eu tinha comigo era a da porta do apartamento.
Por fim acabei deixando para lá o quarto e fui cuidar do resto da casa.
Algumas horas depois alguém começou a bater na porta com insistência. Fui atender. Era o Maurício que tinha acabado de chegar. Por um acaso eu tinha deixado a porta trancada mais cedo para que Pete não me inventasse de passear na rua enquanto eu limpava a casa e também para protegê-lo de algum mal intencionado que de repente pulasse o muro do condomínio e subisse as escadas. Nunca aconteceu, mas precaução nunca é demais, e aquele banheiro naquela tarde me tomou bastante tempo.
O problema é que a chave da porta já não estava em meu bolso. Lembrei de tê-la deixado no balcão da cozinha. Fui buscar. Já não estava mais lá também. Só podia significar uma coisa.
-Pete! - Berrei.
Ele apareceu imediatamente, depois de deixar de fazer qualquer coisa. Aquela carinha, sorriso sapeca, eu sabia o que era.
-Onde está a chave da porta? O seu pai tá desesperado esperando para entrar! E eu preciso ir embora!
-É que você reclamou que só tem uma chave! E aí eu plantei a sua chave para nascer mais!
Desnecessário dizer a vontade de morrer que aquilo dava, né? E o pior não era nem ele ter achado que a chave da porta ia brotar como sementes. Era que Raquel tinha tipo uns seiscentos vasos de planta nos fundos do apartamento pegando sol. Levei o Pete para lá.
-Qual?
-Não sei!
-Pete, seu pai tá desesperado na porta!
Levamos mais de uma hora destruindo vasos de planta por cavar neles até encontrar a chave para o Maurício e a Raquel entrarem e eu poder ir embora. E claro, Pete ficou de castigo pelas plantas que acabamos por destruir.
Depois desse dia, comecei a esconder todos os objetos pequenos que trazia comigo, só por precaução, porque vai que, né? Posso pensar em muita coisa que ele vai querer enterrar para que se multiplique!
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