Tem algumas coisas que a gente as vezes vê nos desenhos animados que não acredita que possa acontecer na vida real nos estados unidos. Mas as vezes acontecem. Como dessa vez eu tinha duas crianças para cuidar, eu tinha bastante tempo para cuidar da casa ou ficar no meu quarto (o antigo quarto de hóspedes) fazendo minhas coisas, porque eles passavam muito tempo um com o outro, ao contrário do Pete que se eu deixava sozinho, mesmo que vendo desenho, tudo que eu fazia era com um medo monstruoso de olhar para trás e a casa ter vindo abaixo. Mas, as vezes, um dos dois não raro precisava ter um pouco de atenção!
-Tio! - Noah me chamou pelo nome. - Me ajuda?
Noah tinha oito anos na época e era mais por ele que a família havia me contratado, embora ele fosse bastante calmo comparado ao Pete, mas era bem imaginativo, e, me pedindo ajuda assim, lá vinha alguma.
-O que você quer?
-Vender limonada!
Podia ser pelo menos que nem no Brasil que só se punha uma placa no portão e espera as pessoas chamarem quando vendem gelinho, mas não, americanos tem que se mostrar. Então fiz durante todo o dia uma barraca simples para ele vender limonada no dia seguinte, fiz três galões de limonada e preparei tudo para ele vender. Até o letreiro nós fizemos, e colocamos na frente da casa. Juro que eu me sentia em um daqueles desenhos antigos que refletem o modo de vida americano.
No dia seguinte, depois da escola, deixei ele vender sua limonada quietinho enquanto eu fazia minhas coisas dentro de casa e Olliver teclava no celular largado no sofá com uma garota. Alias, ele teclava no celular com a garota enquanto estava largado no sofá, fique claro. Ele não teria culhão de levar a garota para o sofá dele tão cedo!
Então saí para ver como Noah estava se saindo com a venda de limonada. No pote de dinheiro abaixo do pequeno balcão já haviam algumas moedas e a limonada estava pela metade. E eu só me ausentei por uma hora. Era o fator novidade. Só que o fator novidade não trazia só coisas boas: Do outro lado da rua, um ruivo gordinho com o pai montava uma vendinha de... Limonada!
-Filho da... - Berrei, em português. Acho que palavrão em português tudo bem, né?
-O que eles estão fazendo? - Noah perguntou.
-Concorrência! Eles também querem vender!
Então, os dois se aproximam de nós.
-Olá, amigo! Você mora aqui? Nunca te vi antes!
-Eu não costumo sair aqui fora! - Expliquei. - Sou o novo Au Pair dos meninos!
-Espero que não se importe, meu garoto viu sua barraquinha, e ela é muito bonita! E aí quisemos fazer também!
Na minha área, meu amigo? Tá de brincadeira? Sorri, tentando disfarçar a raiva.
-Tudo bem, então vamos competir! Que venda o melhor!
-Sabia que ia entender! - Sorriu de volta, se afastando.
Ah, eu entendo! Pode apostar minha mão na sua cara que eu entendo! A coisa ainda se tornou pior porque, assim que o outro garoto voltou para a barraca dele e colocou as placas, na hora de colocar a jarra no balcão dele, colocou duas. Também tinha de laranja. Ele queria vencer pela variedade! Tinha acabado de tornar isso mais que pessoal para mim! Voltei para dentro.
Uma hora depois, Noah tinha sete sabores de suco disponíveis para a venda, que comprei concentrados no mercado com meu próprio dinheiro. Agora, era nosso negócio!
-Você tá brincando comigo? - O homem reclamou da janela.
-São negócios, meu amigo!
No fim do dia, tínhamos vendido bem mais que o garoto do vizinho, sobretudo entre as crianças.
Na próxima manhã, como que para me desafiar, o ruivinho vendia doze sabores de suco, e mais dois tipos de salgado que ele tinha em caixas de plástico e ainda colocou cadeiras de plástico para as crianças sentarem e se servirem. Devia ter passado o dia inteiro cuidando disso!
-Nós temos uma palavra para isso no meu país, Noah: Salafrário!
Eu cheguei a comprar também um salgado e umas cadeiras, mas quando saí lá fora para arrumar no dia seguinte, eu e o pai do ruivinho tivemos uma surpresa: Eles haviam encerrado a guerra!
O ruivinho trouxe sua barraca e a colocou do lado da do Noah, transformando-a em uma só e começaram a vender juntos.
-Noah?
-A gente não estava gostando de ver vocês brigando! - Disse ele, fazendo bico.
É uma coisa engraçada imaginar como as vezes esse tipo de trabalho é um pouco mão dupla. De alguma forma, Noah também estava cuidando de mim e me corrigindo ao não me deixar brigar com o vizinho. Nos próximos dias, os dois venderam quase tudo o que tinham, comemos eu, o vizinho e os meninos o pouco que sobrou quando não cabia mais dinheiro nos potes deles, e eles dividiram o dinheiro igualmente entre eles, com nossa ajuda. E Noah sem querer agora tinha algo bem interessante para colocar no currículo: Foi dono de uma lanchonete bem cedo e lucrou bastante! Só não cobrei dele o que gastei nesse processo todo porque seria maldade. Mas minha carteira sentiu falta depois dessa brincadeira.
O importante é que algo muito necessário foi aprendido por todos nós nesses últimos dias. Mas, por via das dúvidas, da próxima vez eu ia deixar os dois por conta do vizinho!
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