Em primeiro lugar, de forma geral, eu não confio em tatuadores. Um cara que se dedica a passar a vida mexendo com as peles de pessoas que nunca viu na vida e deixar marcas nelas para sempre não soa como uma boa pessoa. Além disso, depois que um amigo meu voltou para casa como uma inscrição no peito com o nome de sua mãe mais parecendo um rótulo de pinga barata dessas de bar de beira de estrada, aí eu tive certeza de que realmente não queria isso para minha vida.
Não posso ser hipócrita. Uma época queria um dragão nas costas, quando era adolescente, porque parecia legal. Só não tinha certeza de qual marca de chiclete vendia uma dessa. Mas na época pareceu valer a pena o sonho. Apesar de que nessa época se eu quisesse marcar meu corpo minha mãe com certeza faria de graça e de bom grado.
Mas hoje, que sou mais velho, eu morro de medo de tentar homenagear minha mãe tatuando o rosto dela, escolher o tatuador errado e voltar para casa com a bunda de um babuíno da pele! E sem poder usar a desculpa de que estava alcoolizado, o que torna tudo bem pior!
Não se trata de não conseguir arrumar emprego, que fique claro. Porque em 2018 ninguém arruma emprego nesse país. Também não é por medo de ser visto como delinquente. Políticos não usam tatuagem. Também não é porque eu tenho problema até com injeção, que dirá tatuagem. Mentira, é sim. Hoje levei o cachorro para vacinar contra a raiva. Suei dois litros. Ele ficou quietinho e ainda deu a patinha para a veterinária depois. Alias, eu tenho de lembrar de escrever um texto só sobre injeções.
Além disso, eu não sei o que tatuaria hoje. O que eu tenho certeza de que vou querer para sempre no meu corpo além dos meus órgãos vitais? Falando bem sério, porque tecnicamente, o que eu vou tatuar tem que ter algum sentido pelo menos para mim, tem que refletir o que eu sou, o meu estilo de vida. Qual desenho expressaria bem algo simples como um enorme oceano de decepções e frustrações nos últimos vinte anos?
E aí eu fico pensando que para metade da família do lado da minha mãe e quase toda a família do lado do meu pai tatuagem é crachá de traficante, eu teria menos dor de cabeça e seria menos mal visto por eles se eu fosse homossexual.
Ou seja, para pessoas como eu não tem como um negócio desse dar certo. Já cheguei a deixar arrombarem minha orelha por causa de um brinco, que já foi quase a dor de um parto, visto que um negócio enorme abria caminho no meu corpo, e foi uma das experiências mais traumáticas da minha vida. E depois disso não usei brinco nem por um ano direito. A tatuagem para mim vai ser só o certificado fixo de trouxa.
Mas, se você, ao contrário, gostar da ideia de um cara que você nunca viu antes em cima de você numa experiência que vai terminar com cicatrizes, vai em frente! Não estamos aqui para julgar suas escolhas!
.
Postar um comentário