O Pete é um garotinho de sete anos então eu jamais esperei qualquer coisa dele além do que se espera dos meninos de sete anos. Sobretudo no que se refere a inteligencia. Mas um dia ele apareceu com uma novidade.
-O Pedrinho tem uma namoradinha na creche! - Disse o Maurício.
Meu mundo caiu mais que o de Maísa. Eu juro por Deus que eu morria de medo que esse menino desse errado por alguma razão, sobretudo porque eu é que cuidava dele e era a influência masculina dele depois do pai. Então imaginar que ele podia acabar sendo precoce me assustou. Sobretudo porque minha primeira e única namorada foi durante a faculdade.
-O que você quer que eu faça?
-Eu não sei nem o que eu faço! Ele é muito novo!
-Calma, o que eles fazem juntos?
-A professora disse que ele não sai do lado dela todo dia e que está sempre brincando com ela!
-Ah, Maurício! Me assustou, cara! Isso é normal! Podia ser com um menino! São amigos, não significa que ele se atrai por ela agora!
-Sério?
-Sério! Pedrinho é só uma criança, não adianta esperar mais dele que isso!
E tudo teria acabado nesse dia e estaríamos na santa paz divina no dia seguinte. Se a Raquel ja não tivesse, sem querer, convencido o Pete de que aquela menina era sua namoradinha. No dia seguinte ele ficou fazendo perguntas.
-Tio, você tem namorada?
-Não, Pete!
-Porque? Você não gosta?
Olha só, um homem pode perfeitamente passar um período da vida só vivendo de amor próprio e isso não quer dizer nada sobre a sexualidade dele, ta legal? Foi o que pensei em dizer. Mas uma criança de sete anos nunca vai entender o drama de viver de amor próprio!
-Eu ja tive uma namorada e não foi legal, tá? Ela não era uma boa pessoa! A sua é legal?
-É, mas ela namora o Ricardinho também!
Aquilo era uma creche ou a novela das oito?
-Ela também namora outro menino?
-As vezes! E as vezes ela namora a Bianca também!
Travei. Essa geração nova estava mais assustadora que filme de terror. E essa menina com sete anos ja tinha a vida sexual mais ativa que muita amiga e conhecida minha!
-E você só namora ela?
-Não. As vezes eu namoro o Bernardo e o Lucas!
"É hoje que o Maurício enfarta!" Pensei, boquiaberto. "É hoje que o Maurício vai enlouquecer!".
-V-você namora os dois?
-É, com os dois junto quando a tia deixa!
Eu naquela altura nem sabia mais de mim. Eu me sentia uma daquelas velhas fofoqueiras que ficam vendo a vizinhança e se escandalizam com a nova geração chegando tarde em casa. E não me passava mais nem sinal de wi-fi só de pensar que o Maurício podia por a culpa em mim!
-V-você não pode namorar com tanta gente assim, Pete!
-Porque não? - Perguntou, com o olhar triste. - Tem lego para todo mundo!
-L-lego?
-É!
-Você... Namora com alguém... Quando brinca junto com lego?
-Não é assim?
Acho que nem se eu tivesse no Titanic afundando e aparecesse um navio de resgate eu ficaria mais aliviado que naquela hora! Combinei com o Pete de não contar nada sobre seus namoros para os pais dele. Até a faculdade.
A explicação era simples: A Raquel achou engraçada a idéia do Pete estar namorando com uma menina na creche e brincou com ele sobre isso. E conversa vai, conversa vem, deve ter feito ele associar namorar com brincar junto. De forma que, na cabecinha dele, todo mundo namorava com todo mundo na creche dele.
Por via das dúvidas, quando Maurício chegou no apartamento fiz questão de deixar bem claro:
-Fala para a sua mulher parar de falar com o Pedrinho ou eu me demito!
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