-Foi tudo um plano, desde o início! Sinto muito que tenha que saber assim!
Era seu aniversário de vinte anos, quando finalmente sairia da casa dos pais para ir morar sozinho, na verdade, numa república em outra cidade para fazer faculdade, mas definitivamente, bem longe da família. Mas ele precisava saber da verdade antes de sair, ou assim pensou dona Iolanda, antes que o filho deixasse a velha casa.
-D-do que você está falando, mãe?
-Eu não sou sua mãe. - Disse usar peruca nos primeiros anos enquanto o cabelo crescia e seios postiços. - Eu na verdade, sou o seu pai.
-O-o que? Não, você só pode estar brincando, mas e...
O pai então se aproxima. Seu Ótavio, até então um homem conhecido pela rudeza e exemplo de virilidade na cidade, explica que cortou o cabelo quando o garoto nasceu, ao mesmo tempo em que retirou as mamas na juventude e mostra a verdadeira voz.
-Na verdade, eu sou sua mãe.
O garoto começa a se desesperar enquanto se senta no sofá e mal consegue olhar nos olhos do casal. Não sabe o que dizer ou pensar. A vida toda foi uma mentira.
-Mas porque? - Berra, em prantos.
-Ordem deles.
-Deles quem?
-Confidencial. Era uma missão secreta, mas você não podia saber nossas identidades reais ou poderia entregar tudo. Nenhum dos vizinhos sabe também.
-M-mas e as tias? E os primos?
-Todos agentes trabalhando na mesma missão. Inclusive seus primos foram adotados de um orfanato na capital pela organização para podermos prosseguir com a missão. E aquela sua avó surda-muda e paraplégica que sua tia trazia todo natal na cadeira de rodas, na verdade é um cachorro quase sem focinho que a gente colocava um vestido e óculos, por que não temos senhorinhas na organização. É um projeto futuro, mas no momento, o cachorro é o que temos.
-O-o que vocês querem comigo? Para que me criaram?
-Vai saber quando voltar da faculdade daqui a cinco anos, filho! Mas agora, você tem que saber que, mesmo com tudo isso, e mesmo não sendo seus pais de verdade, nós amamos você!
-S-seus pilantras! - Grita, enquanto pega sua grande mala com uma mão e enxuga as lágrimas com a outra. - Nunca mais vão me ver, ouviram bem? Nunca mais!
Ele então sai de casa e fecha a porta com força atrás dele, e segue furioso e frustrado em direção ao terminal rodoviário, deixando o casal a sós, enquanto pensa no que vai fazer da própria vida.
-Será que ele acreditou? - Perguntou dona Iolanda.
-É melhor assim. - Ponderou seu Otávio, voltando a usar a voz normal. - Se não ele ia ligar de cinco em cinco minutos no primeiro dia e no segundo ia querer pegar o avião de volta.
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