Diálogos com meu Gato #01 - Piloto


   Eu já tinha postado aqui um outro texto sobre o meu gato antes, que como vocês bem sabem, é como se fosse um colega de quarto meu, daqueles folgados que deitam na sua cama (ou nos seus livros, ou no seu computador) quando querem, recebem a namorada na sua casa sem te comunicar, enfim, pentelhos que agem como se a casa fosse deles.
   E meu gato, se vocês bem se lembram é daqueles que quando não está dormindo no meu sofá ou em qualquer coisa minha que ele ache digna da honra de receber o seu corpo por algumas horas está então sumido para algum lugar sem hora para voltar. Mas as vezes ele aparece acordado e fica olhando para mim, assim, como que me julgando com sua inteligência tão avançada e superior.
   -O que você quer? - Pergunto, enquanto ele me observa usando o celular no sofá, deitado no tapete da sala.
   -Nada! - Murmura, com o olhar de uma Nazaré Tedesco sobre mim.
   -Comida?
   -Sim, por favor.
   Outro dia quase fez uma arte. Entrei em meu quarto. Ele estava na minha cama de pé olhando para janela. E no parapeito, a gatinha do vizinho olhava para ele, numa espécie de amor que chamaria de "caramugial" (caramujos devem demorar tanto para se aproximar que quando estão perto o suficiente para se beijar já estão casados e com filhos na faculdade enquanto preparam seu divórcio e aposentadoria e fazem as contas para o imposto de renda), mas eles não eram caramujos! Eu sabia o que ia acontecer logo em seguida!
   -Na minha cama não, seu folgado! - Berrei.
   A gatinha se assustou com a minha voz e deu o fora, enquanto ele me olhava como Hitler provavelmente deve ter olhado para os artistas que o reprovaram na escola de arte na juventude, o que ignorei e fiz questão de fechar a janela para caso ela tentasse voltar. Assim já era demais! Achar que tem essas liberdades na minha cama é um abuso, mesmo que ele futuramente consiga de verdade dominar o mundo.
   Em outra situação, ele me viu usando o computador e veio saltar no meu colo, para em seguida subir na mesa e ficar bem na frente do monitor, me impedindo de ver mais da metade dele. Assim, totalmente aleatório, do nada mesmo.
   -O que você está fazendo?
   -Esse negócio mexendo! Ele tá me desafiando!
   -O que?
   Foi quando eu notei. Cada vez que eu movia o ponteiro do mouse ele o seguia com o focinho. Achei interessante, e então comecei a brincar. Para ele é como se fosse a ponta de uma linha, mas que, nesse caso, ele não podia pegar com a pata. Mesmo assim, as vezes olhava atrás do monitor para ver se o via.
   -Você quer isso? Você quer o ponteiro?
   -Eu vou acabar com ele!
   Ficamos nisso por mais de dez minutos até eu cansar. Cheguei a filmar na época, mas acabei apagando da câmera sem querer.
   Por sinal, uma vez ele estava dormindo no sofá, então resolvi fazer uma arte, e coloquei uma das bonecas pequenas da minha sobrinha entre as patas dele, para simular que estava dormindo abraçado com ela. Em seguida tirei uma foto dele dormindo com ela. O resultado é que até hoje ele ameaça de enfiar a garra no meu pescoço e me decapitar se eu mostrar para alguém. Sobretudo para outros gatos. É uma questão de honra e reputação!

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