Se encontram em um café. Já fazem dez anos. Foram alunos na mesma turma na escola anos antes. A mesma professora, os mesmos amigos, quase sempre a mesma mesa no intervalo. E agora, quis o destino colocar os dois frente a frente tomando o mesmo capucino depois de tanto tempo.
-Oi! - Ela diz sem jeito.
-Oi! - Ele responde sem jeito também.
-Quanto tempo!
-Sim, já se vão dez anos!
-O que você fez de lá para cá?
-Eu fiz faculdade, me formei em direito. Tenho uma audiência mais tarde inclusive. Mais um caso para defender. E você?
-Comecei uma faculdade e parei. Tive um relacionamento, acabei engravidando. E aí tive que parar tudo. Tenho dois meninos hoje, um de dois e o outro de cinco. Que mal conhecem o pai, acredita?
-Puxa vida! Digo, que coisa triste! Não pelos seus meninos, para pelo jeito como você interrompeu sua vida!
-Pois é!
Aos poucos ele aproxima sua mão da dela sobre a mesa. Os dedos lentamente entrelaçam. Ele sorve o café com a outra mão e lhe direciona o olhar. Ela sorri e pensa em como ele ficou tão bonito agora com barba.
-Teria sido mais bonito se eu não tivesse sido tão burra naquela época, não é?
-Não, não pense assim, o tempo correu como deveria correr. Mas olha, se você quiser passar da minha casa depois da audiência a gente pode conversar melhor, eu posso cozinhar para você!
-Sim, é claro, seria ótimo!
Mas de repente, a culpa começa a ataca-la. E ela se lembra. Ela namorava um rapaz naquela época, Carlos. Camisa dez do time da escola, marombado assim como o pai. Não a tratava de todo bem, mas, muito nova e imatura sempre acabava relativizando o que ele fazia. Enquanto isso, Esteban era um nerdzinho magricela, exatamente como ela o via a sua frente, mas na época bastante estabanado e zoado pela maioria, sem nem um por cento da postura respeitável de hoje. Ele volta e meia punha poemas em sua mochila, e ela sempre os esnobava. O que hoje, mais madura e consciente, se arrepende muito de fazer.
Resolve tentar fazer as pazes e reconstruir a relação. Não era certo passar a noite com ele em seu apartamento sem se retratar como se nada tivesse acontecido no passado.
-Eu acho que te devo desculpas. Você sempre foi muito fofo e gentil comigo. Eu devia ter percebido naquela época o doce que você era.
-Como é?
-Aqueles poemas e tals. Me desculpe por tudo o que eu disse. No fundo, olha, eu sempre achei todos bonitinhos mesmo! E o Carlos ele... Ele era um completo imbecil. No fundo, eu sempre soube que você era melhor que ele, e...
-Júlia, eu não sei como te dizer isso.
-O que foi?
Ele pega a sua mala e a coloca de baixo do braço para ir embora. Ajeita os óculos. Parece visivelmente irritado.
-Você realmente não se lembra de mim, não é?
-Por que?
-Eu sou o Carlos. - Tira rapidamente o chapéu. - Adeus.
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