O pior cachorro do Mundo


   As vezes a crônica praticamente se faz no dia a dia do cronista. Estava eu no açougue de um grande mercado. 17:00 da tarde. O lugar estava com uma boa quantidade de pessoas sendo atendidas. E eu tinha uma lista de coisas para comprar que não podia esquecer.
   Só que nesse dia, o Lion, meu cachorro, um vira-lata branco, ainda filhote, 8 meses (porém dando trabalho por catorze adultos) me seguiu sem que eu percebesse. E foi aí que a coisa toda começou a dar errado.
   Estive na parte do açougue para fazer compras para o jantar.
   -Pois não? - Me atende a mulher atrás do balcão.
   -Um quilo e meio de linguiça toscana, por favor!
   Atrás dela, na parede, havia uma enorme televisão mostrando imagens das câmeras de segurança do mercado. Tinha pelo menos umas oito. São recentes. Sinto falta de assistir a Sessão da Tarde enquanto aguardava na fila, pessoalmente.
   É quando tudo começa: Numa das trocas de câmera vejo meu cachorro cheirando frutas. Aparentemente ninguém perto dele vê, mas as pessoas próximas de mim começam a cochichar. A mulher ouve o burburinho. Pensei na hora que se ela virasse o corpo um pouquinho que fosse para trás eu ia me ferrar lindamente.
   No nervoso, começo a conversar com ela sobre qualquer coisa, para manter a sua atenção voltada para mim.
   -Então, está quente hoje, né?
   -Muito! Menino, não dá para sobreviver sem ventilador! Ainda bem que eu trabalho nos frios, né?
   -É, a senhora tem sorte!
   Enquanto isso, na câmera, ele começa a examinar outras coisas a venda por ali como se aquilo fosse algum episódio de desenho animado, onde os cães são meio humanos. E eu começo a desesperar. Até que, para meu alívio, a imagem na tela muda para a câmera externa.
   Mas alívio de pobre dura pouco, diz o ditado!
   -Essa linguiça tem procedência... Boa, né?
   Eu tenho quase um espasmo. Lion começa a passear atrás dela. Eu já me sinto quase desmaiar. "Ele vai fazer uma arte memorável e vai me fazer ser expulso". Começo a suar frio!
   -O senhor tá bem, moço?
   -D-deve ser o calor!
   -Então, eu não sei dizer para o senhor, não, porque eu só atendo os clientes, mas ela vende bastante aqui!
   Ele para atrás dela. Fica olhando para mim com aquele sorriso de quem sabe que está desgraçando a vida alheia. Mais ou menos como o coringa: Querendo mais é que o mundo queime!
   -Sai dai! - Sussurro.
   -O que, senhor? - A mulher me encara.
   -Sai daí... A melhor carne da cidade, né? D-digo, vocês tem ótimos fornecedores, né? - Meu sorriso completamente amarelo, provavelmente.
   Ela me olha estranho, provavelmente achando que eu era meio louco ou algo assim.
   -Algo mais, senhor?
   -É só isso. - Um olho nela e outro no cachorro. - Então, eu estou indo embora!
   Para a minha sorte, ele entende a indireta e sai de trás do balcão, de forma que a mulher não chega a ter a menor percepção de que ele um dia esteve ali.
   Gosto de pensar que essa cena digna de filmes de comédia trash poderia ter sido bem pior. Ele poderia sair do mercado com um pedação de bife na boca sem ser notado. Mas ele provavelmente nunca mais vai passar dos muros da minha casa na vida!

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