O Márcio está sempre Certo


   Eu conheci o Márcio na faculdade. E já aconteceram várias histórias envolvendo nossas pessoas que poderia ser escrito um livro só com essas histórias. Mas eu não vou fazer isso. Já corro o risco de perder amizades só com esse.
   Mas eu quis dedicar um  texto nesse blog só para o Márcio porque ele tinha algumas peculiaridades. Uma das quais acho que é mais interessante dizer aqui: Ele nunca teve a menor papa na língua para falar comigo sobre absolutamente nada, e é daqueles amigos que, quando dá conselho, tá pouco se lixando se a verdade vai doer.
   Nem posso contar quantos “C#ralho, bicho”, “presta atenção”, “se você continuar sendo assim o mundo vai te esmagar” e variantes eu já ouvi dele ao longo de mais de cinco anos de amizade. O mais engraçado é que, do fundo de sua impaciência, Márcio era meu mal necessário. Seus sincericídios me ensinaram coisas muito importantes que várias vezes eu realmente precisei saber. Ainda que geralmente eu não fosse o inteligente o suficiente para entender antes de me ferrar bonito.
   A outra parte engraçada da coisa é que Márcio se formou e se tornou professor. Eu nem consigo imaginar como devam ser as aulas dele, apesar de já ter me dado alguns exemplos. Nos estágios da faculdade ele já era aquele ser de pura atenciosidade:
   -Professor, fulano ta jogando bolinha de papel em mim!
   -Problema seu.
   Uma coisa que se podia afirmar com certeza, é que Márcio não trataria nenhum de seus alunos com nenhum tipo de preconceito, seja de raça, sexo, posição social ou o que for: Ele quer mais é que todos igualmente se f#dam. Não, não foi uma piada. Eu não tenho esse talento. É sério mesmo, fora do horário de trabalho ele quer mais é que todos igualmente se f#dam.
   Tivemos uma conversa recentemente. A maioria das pessoas não sabem disso, mas professores não tiram férias em Julho. Eles ficam alguns dias na escola terminando algumas coisas e depois tem duas semanas de recesso. Aquele era seu último dia de trabalho antes desse recesso.
   -Teve crianças lá?
   -Sai fora! Seria um saco desgraçado!
   -Porque? - Perguntei, já rindo por dentro da reação.
   -Porque aí eu teria que me responsabilizar, sendo que já terminei o semestre!
   Em seguida, ele me contou uma história recente.
   -Por esses dias depois do último dia de aula vieram dois meninos para cá, eu coloquei eles na sala e enchi a lousa para eles copiarem!
   -Nossa, Márcio! Será que não seria melhor pegar uma bola com o professor de educação física e deixar eles brincando na quadra?
   -Claro que não, c#ralho!
   -Porque não?
   -Porque senão eles voltam no outro dia, c#cete! Eu quero que eles fiquem na p#rra da casa deles!
   Enfim, esse é o Márcio que conhecemos e amamos. Mas acho que o mais engraçado foi quando conversamos sobre um grupo dos professores da escola que ele fazia parte em uma rede social, e de repente, eu pergunto:
   -Vocês falam mal de alunos lá?
   -Claro que não, p#rra! A diretora ta lá!

   Obs.: Eu tinha que voltar rapidamente a esse texto para explicar isso. Para que não fique uma impressão errada, Márcio é um excelente professor, e no fundo no fundo, mas tipo bem nas profundezas dele mesmo, onde nem o mais habilidoso examinador de próstata conseguiria chegar, ele ama as crianças dele. Não me esqueço uma certa vez, quando viajei para a sua cidade, e fomos para uma tradicional feira de artesanato ali perto. Um senhor vendia kits de lápis de escrever e pintar artesanalmente feitos a partir de gravetos grossos de árvore, os famosos "lápis ecológicos". Lembro até hoje de ele pedir um kit e resmungar:
   -Quero ver agora algum pirralho falar que não tem lápis!

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   É claro que eu precisei trocar o nome real do Márcio para livra-lo da vergonha alheia de as pessoas saberem que ele é meu amigo, mas, segue uma fotinha que tirei agora mesmo para esse post dos lápis que compramos na feirinha:


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