Menino Prendado


   Ela queria muito poder ser como as outras mães, com aquele filho padrão que hoje faz birra no supermercado por brinquedos e chocolate e na adolescência ia começar a usar drogas e a chegar tarde em casa. Mas não, tinha que ser o Carlinhos.
   E nada contra o Carlinhos, porque ele era um filho maravilhoso. Era prendado o moleque, aprendeu a cozinhar cedo e as vezes era ele quem fazia o almoço e o jantar. Conforme foi crescendo começou a pegar uma antipatia quase doente por sujeira e desarrumação. Qualquer coisa era o suficiente para se estressar e dar uns berros com o mais novo. Até um copo que ela esquecesse de cima da mesa deixava ele de cara fechada.
   A coisa era estranha. Sonhava com as reuniões de mães do condomínio, onde as madames trocavam histórias e reclamações de seus rebentos.
   -Ah, mas o meu toca piano!
   -Ah, mas o meu aprendeu a consertar o carro com o pai!
   -Ah, mas o meu adora matemática!
   Sério, era meio broxante dizer para elas que o hobbie do Carlinhos era tirar o pó dos móveis. Geralmente, quando adolescentes se interessam por pó é outra coisa.
   As vezes ela tinha uns surtos. Coisa de mãe, quando via que alguma coisa não estava certa com o filho e precisava reagir.
   -Carlos Paulo, larga essa vassoura e vai brincar lá fora! Agora!
   -Mas mãe!
   -Mas mãe, nada! Isso é trabalho meu! Vai para fora ou vai ficar uma semana sem nem ver a cor do esfregão! Eu estou falando sério!
   Dava um desânimo no ponto mais fundo do âmago ter que ameaçar ele daquele jeito tão esdrúxulo, impedindo ele de limpar o chão. Qualquer menino de suas amigas chamaria isso de castigo dos sonhos, mas ele até chorava só pela ameaça.
   Até o marido, cardíaco, começou a ficar mais tempo no trabalho do que em casa para não ter que ver o garoto de avental lavando louça e correr o risco de ter um troço. A situação era crítica.
   Um dia ela levou o menino a um psicologo, crente de que o deixou bater a cabeça quando pequeno e não se lembrava.
   -Me desculpe. - Perguntou a mulher, no dia. - Mas porque é um problema tão grande o Carlinhos gostar de ajudar na faxina?
   -Doutora, o problema é que, vamos encarar! - Respondeu a mãe. - Eu tenho cara de quem leva jeito para Minecraft?

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