Heróis da vida Real #00: O Incrível Metrossexual Moderno


   Eu o conheci há muitos anos, bem no início de sua saga, quando eu também era bem mais novo, mas claro, sem ter a menor idéia do que ele ia se tornar.
   Era um rapaz moreno, naturalmente bonito, e por ser um adolescente, evidentemente que isso mexia com o seu ego. Acredito que tenha sido esse o estopim para que ele se tornasse o que é, a soma de adolescência, hormônios, maconha e beleza natural, que foi a aranha radioativa para ele se tornar o metaforicamente "incrível metrossexual".
   Vejam bem, nos tempos modernos (e até Veríssimo já tinha escrito uma crônica sobre isso) havia o homem que é homem, aquele que vivia os fins de semana a base de churrasco com carne gordurosa e cerveja barata, ignorando completamente o que isso faria com sua expectativa de vida. Esse mesmo homem faria amizade com qualquer um que lhe perguntasse em qualquer momento aleatório: "Mas você viu o Corinthians?" ou qualquer que fosse seu time do coração. Também, por exemplo jamais admitiria que achou outro homem bonito e diria que o homem não se mede somente pelo que tem entre as pernas. A não ser quando se trata de Pablo Vittar, aí temos um bug de sistema no homem que é homem que a ciência não foi capaz de resolver.
   Mas aí, surgiu uma outra espécie. Uma espécie muito mais sofisticada e cultural, ou assim pensa ser. E é aí que entra nosso personagem da semana. Em escala de evolução social, ele está para o homem que é homem como o homem das cavernas está para o homem atual, e olha que o homem atual está bem longe de se considerar perfeito, mas é o que temos.
   O incrível metrossexual moderno possui inclusive algumas expressões e costumes próprios. Em primeiro lugar, ele possui algumas quebras de protocolo em relação ao homem que é homem. Por exemplo, ele até bebe cerveja barata na festa dos outros, mas jamais pagará por ela na balada. Vejam bem, ele é pobre, mas não quer que isso fique muito exposto. Qualquer homem passa a ficar feio quando sabem que ele é pobre. Então gasta com bebidas um pouco mais caras (só um pouco, mas dentro do orçamento) para fazer o tipo "caminhando para o Rei do camarote".
   Quando esteve namorando, era uma regra, quase um dos dez mandamentos, trair a namorada com pelo menos mais outras três meninas de bairros diferentes da cidade, sem deixar que nenhuma delas fique sabendo das demais, mas garantindo que todos os caras em volta fiquem, porque é preciso mostrar serviço quando o uso de maquiagem (segundo ele bem de leve, para evitar espinhas, só um creminho de rosto, um daqueles batons de cacau para lábio ressecado e uma base) pode colocar sua masculinidade e sua popularidade em risco. Sim, o incrível metrossexual moderno é assim.
   Mas é claro, quando a segunda feira chega, ele volta resignado ao seu trabalho medíocre com salário mínimo conseguido há pouco tempo atendendo pessoas em um estabelecimento. E não tem coisa mais humilhante para um autêntico incrível metrossexual do que trabalhar num dos níveis mais baixos de subordinação de uma empresa quando se tem cara de empreendedor bem sucedido. Mas enfim, essa é a vida real.

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   Estamos de volta finalmente depois de quatro dias com problemas técnicos no blog. Mas já estamos de volta a ativa!
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