Velhos não são ranzinzas, os jovens é que são chatos!


   Eu passei com muita dor no coração pela crise dos vinte e poucos (encabeçada pela música do Fábio Júnior, vocês sabem qual), que é quando você se dá conta de que não tem mais desculpa: Você é um adulto e precisa começar a agir como tal. Agora, estou passando pela crise dos vinte e tantos, que é mais ou menos quando você chega nos vinte e cinco e começa a se dar conta de como o tempo está passando cada vez mais rápido. Aí o seu psicológico pira e você começa a ter um monte de efeitos provocados por ele: É a dor nas costas psicológica, é o cabelo branco psicológico, é a pele enrugada psicológica, é a falta de ar psicológica depois de dois degraus de escada. Mas, principalmente, você começa a pensar mais sobre a velhice e o tempo. E aí, pelo menos eu, começo a entender uma série de coisas sobre velhos que antes eu não entendia.
   E o que quero falar nesse texto é exatamente de uma das mais comuns delas, aquele estereótipo do velhinho ranzinza. Pode ser que eu é que esteja me tornando gradativamente um Lula Molusco, mas não acredito que seja bem assim.
   Quando você chega numa certa idade (que teoricamente não é a minha) você começa a quantificar quanto tempo você já gastou da sua vida, e quanto tempo precioso você perdeu de N maneiras inúteis. Inclusive nas pequenas coisas. E é aí que tudo começa a mudar na sua cabeça. Você começa a perceber que não vale mais a pena ser tão paciente com certas coisas.
   Por exemplo, tem um cinema na minha cidade que é ótimo, com exceção de uma coisa: Todos os atendentes são meio lerdos. Pelo menos é a impressão que eu tenho. Quando eu fui lá da última vez com meu priminho de uns 14 anos, perguntei sobre o filme que queria assistir. Eu disse que pagaria meia, por ser estudante da faculdade e o garoto pagaria inteira, porque estava sem a carteirinha da escola.
   -Fica em 40 reais.
   -Pera? As duas? Qual o valor da meia?
   -A meia é 10!
   -Mas eu pedi uma meia e uma inteira, você disse 40!
   -Eu disse que duas são 40!
   -Mas eu não quero duas inteiras, eu quero uma meia!
   -Uma meia é 10!
   E naquele momento eu já tinha sacado a informação que ele deveria ter me dado: Uma inteira e mais uma meia são 30 reais. Uma pessoa mais jovem seria paciente e sorriria:
   -Então são 30 reais, certo? - Entrega o dinheiro, sorrindo. - Onde posso comprar a pipoca?
   Mas quando você chega numa certa idade e começa a não querer mais gastar tempo com coisas e situações inúteis, começa a entrar numa espécie de fase do “Não gostou, me processa!”. Alguém assim responderia:
   -Amigo, assim você se confunde, me confunde, e a fila atrás de mim não anda! Você pode fazer o seu trabalho, por favor? - Reclamaria, em voz alta. - Tá aqui os 30 reais!
   Foi o que eu disse mesmo. Era a forma mais educada que dava. Eu já estava estressado porque tinha um adolescente sob minha responsabilidade, aí pronto, o atendente me pegou no dia perfeito!
   Eu sei, eu sou professor de educação infantil, eu devia ser mais paciente com as pessoas. Errado. Eu tenho de ser paciente com as crianças, conhecer os seus problemas e necessidades. Criança não nasce chata. Uma criança chata é reflexo de um pai que não sabe pôr limites e precisa urgentemente de um semancol. Palavra de quem estuda educação e lida com crianças há anos.
   Um conhecido que defende essa teoria imbecil de que velhos são ranzinzas porque querem, porque é coisa da idade, conta que sempre que aparece para ver o avô que mora sozinho no domingo de manhã é recebido de má vontade. O que eu sempre digo para ele é:
    -Seu avô não é ranzinza, você que é um pau no c#! Ele passa a vida inteira acordando cedo para estudar, trabalhar e sustentar a família e quando ele finalmente consegue se aposentar, o que no Brasil equivale a escalar o Everest 50 vezes, você quer ir lá oito horas da manhã encher o saco?
   -Mas...
   -Ele vai morrer daqui a pouco, para de torrar a paciência e roubar o tempo dele! Deixa ele ser feliz!
   Enfim, como podem ver, quando você se aproxima dos 25 anos, você começa a se tornar um velho por dentro. Não sei quanto tempo isso dura, acho que não muito. Mas dou um conselho: Se você estiver nessa faixa de idade, se afaste o máximo possível de álbuns de fotografia de família. Sério, a dor é angustiante e só passa com uma hora de um bom filme (de preferência animação) e tomando sorvete. Porque sorvete cura todos os males do emocional.

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