Não muito tempo atrás presenciei uma cena em uma grande loja de brinquedos. Estava passando por lá enquanto aguardava dar a hora de outro compromisso. Enquanto isso, um pouco afastado de mim, uma família. Duas senhoras por volta dos 50 anos, uma moça e um garotinho entre sete e oito anos. A senhoras discutem enquanto os outros dois observam. A mulher com certo constrangimento. O garoto sem entender a situação.
-Você sabe como ele é, Nair! - Dizia uma, com um brinquedo qualquer na mão. - Gaste isso tudo com ele e ele vai fazer isso virar pó em dez minutos!
-Pelo amor de Deus, Hilda! É só um presente de Natal, isso não é uma questão nossa! Além disso, você viu como ele gostou!
-Dinheiro não nasce em árvore, Nair!
-Nem o amor do seu neto, Hilda! Custa ser simpática?
-A Lúcia não pode dar todo esse dinheiro para ele sumir com ele, independe disso! Você sabe que ele destrói tudo! - Referindo-se a mulher e ao garoto.
-Não fala assim na frente do menino! Olha, vamos conversar ali do outro lado! Lúcia, resolve com ele você, querida! Ninguém conhece ele melhor que você! Vamos Hilda!
Eu poderia ter seguido as duas senhoras para ver no que ia dar a conversa, mas aquilo já estava constrangedor até para mim, que dizer da moça e do garotinho que não vi soltarem mais uma palavra enquanto as senhoras se afastavam. Logo, imagino dois finais distintos para essa história:
Primeiro final: Nair vence a discussão. Dão o brinquedo caro para o garoto. Hilda e Nair entregam juntas o presente no dia seguinte na presença de Lúcia e do pai do garoto. Hilda com a cara extremamente emburrada, mas aceitando o que se passava.
-Feliz Ano Novo, querido! Desculpe a vovó demorar para lhe dar o seu presente, viu?
O menino abre um largo sorriso e abre o presente, mesmo ainda constrangido com o olhar de Hilda. Abre mais devagar e timidamente do que o de costume, em seguida apenas subindo para o quarto. A profecia de Hilda acontece. Quando as duas senhoras vão a casa de Lúcia tomar chá e ver o neto na semana seguinte, o brinquedo está tão destruído quanto esquecido.
-O que eu disse? - Resmunga Hilda. - Era melhor dar roupa. Funciona desde o tempo dos nossos pais.
E o garoto aparece com outro brinquedo qualquer na mão, mas emudece ao ver Hilda.
-Vó, anh… Oi! - Sorri amarelo.
-Você brincou muito com o [Insira aqui o nome do brinquedo] que as vovós te deram?
-Teria sido melhor um videogame!
Segundo final: Hilda vence a discussão. Dão uma roupa qualquer para o garoto. Uma camiseta de um personagem qualquer que surgiu em algum desenho novo para vender coisas caras e inúteis para as crianças. Ao menos, assim avalia Hilda. Com um sorriso mostrando a dentadura, dá a camiseta para o garoto, que sorri de canto de boca. Realmente esperava ganhar o brinquedo.
-Fala obrigado para as vovós, Luquinha! - Diz Lúcia, desconsertada.
-Obrigado.
-A vovó demorou para dar o presente de Natal mas deu! - Diz Hilda, sorrindo.
-Porque parou para discutir economia! - Resmunga Nair. - Mas, mais importante, você gostou, querido?
-G-gostei!
Depois de uma semana as duas senhoras retornam a casa de Lúcia.
-Você está usando a camisetinha que as vovós te deram? - Sorriem.
-Teria sido melhor um videogame!
------------------------------
Mais um texto revisitado da versão antiga deste blog.
Postar um comentário