Meu problema (ou da humanidade) com pronomes e concordância verbal!


   Eu tenho um problema sério com o português das pessoas. Eu passei a infância lendo. Quando você é o garoto nerd antissocial da turma resta encontrar alguma companhia nos livros. O que me fez estar em contato com linguagem desde bem cedo. Não estou falando para justificar, não, estou falando porque é verdade.
   Eu tinha o mal hábito de corrigir as pessoas quando era mais novo. Não é por maldade, mas tem umas coisas que são insuportáveis. Tipo “Eu se troquei”. Sério, dá uma agonia gigante aqui dentro. Desperta aquele monstro enjaulado louco para sair e dizer “É ‘eu ME troquei’ animal!”, e depois dar aula de pronome. Sim, imaginem isso, um monstro que dá aula de português! E esse texto nem é do Maurice Sendak!
  Mas eu juro que me recuperei, e agora nada sai de dentro de mim. Embora não deixar sair tenha um custo bem grande.
   Para não dizer que eu sou muito severo eu perdoo alguns maneirismos e regionalismos, e crianças. Por exemplo, não posso culpar uma pessoa que fala “eu tava lá” em vez de “eu estava lá”, porque fazemos isso para poupar esforço de fala. Ou o caipira que diz “é isso mermo” em vez de “é isso mesmo”, porque não é culturalmente errado. Ou mesmo a criança que diz “pepeta” em vez de “chupeta”, porque o pai é retardado e usa essa linguagem imbecil de bebê com a criança até os quatro anos para o professor da creche ter que perder tempo ensinando a criança a falar certo mais tarde.
   Agora, tem situações que eu me esforço muito, eu juro para vocês, mas eu nunca consigo muita coisa. Situações em que a pessoa tem formação e deveria falar certo, mas vai lá e manda o português a m#rda. Na reunião da igreja, quando o pastor diz:

  “Para mim, enquanto seu deus, operar um milagre na sua vida, é preciso que você venha até mim!”.

  O que surge no meu coração é aquela vontade herética que eu sempre seguro com todas as forças de dizer:

  “’Mim’ não conjuga verbo, filho da p#ta!”.

   Eu fico pensando quantas vezes Jesus Cristo não deve ter repetido para si mesmo de lá de cima cada vez que ouve um “mim” conjugando verbo: “Perdoa-os, pai! Eles não sabem o que fazem!”. Assim, eu acho que se você fala em nome de Deus, é bom falar em seu pronome também.

   Também quando a vendedora me aborda na rua e diz:

   “Bom dia, senhor! Já temos internet e TV a cabo em casa?”

  E lá no fundo novamente o monstro começa a forçar a jaula para me fazer gritar:

   “E a gente por acaso mora junto, sua desgramada?!”.

   Pois é. E depois que eu me tornei professor piorou. É sério, é algo crônico. Quando é com pessoas que deveriam saber as duas coisas mais básicas do universo, depois de comer e cagar, que são uso de pronomes e concordância verbal, eu tenho esse sério problema de corrigir. Mas no fundo, eu quero ajudar as pessoas, porque, se um dia assinarmos um tratado de paz entre as nações, e escrevermos que “agora as nação estão unidas” vamos bugar todos e voltar a guerra, visto que e mais fácil, já que “guerra” não requer a forma plural para ter mais de um grupo de fulanos envolvido, ao passo que só podemos fazer as “pazes”!


Estamos de volta com o blog depois de mais de um ano de recesso. Estava me dedicando ao meu outro blog, mas, ele foi sugado pelo buraco negro do capitalismo. Não há muitas opções quando não é você quem paga seu domínio. Mas, estamos de volta e vamos tentar não parar!

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