Eu fiquei olhando para o post anterior por esses dias. Quem leu sabe do que se trata, algumas experiências com a mente bizarra que as crianças tem. Não é bem que tenham mentes bizarras, na verdade. Todo mundo pensa besteirinhas sem sentido de vez em quando, mas a gente sabe quando e como soltar e quando não. Eles ainda não entendem muito bem estas relações, e se for uma pergunta, eles perguntam mesmo. O próprio Carlinhos (que me perguntou se eu não tenho filhos porque minha mãe não engravidou) rendeu várias cenas assim.
Mas curiosamente, todas as cenas que contei são de quando trabalhei em creches. É porque, fora isso, não tenho sobrinhos com idade para protagonizar cenas assim. Um deles é mais velho e os outros dois ainda são muito pequenos. O mais velho, hoje com doze anos, na verdade chegou a me dizer quando tinha uns quatro anos que "você não é mais velho, é que você cresceu rápido demais".
Mas aí eu lembrei de uma história fora do meu contexto de trabalho:
Quando, por exemplo, tomando um ônibus lotadíssimo, não me lembro para onde, consegui me sentar, tinha dois garotos de uns nove anos no banco em frente ao meu. Um deles então fez uma piada grosseira, com palavrões pesados inclusive, para meio ônibus ouvir. Duas senhoras fizeram questão de achar isso bonitinho:
“Pequenininho e já fala palavrão! Olha só, Dirce!” Disse, sorrindo. É engraçado como tem gente que não nasce com cérebro funcional.
E aí, com o reforço positivo das senhorinhas, os dois continuaram as piadas. Aquilo começou a me incomodar profundamente. Tipo, cadê os pais daquelas crianças? Porque carvalhos estavam assistindo aquilo e não tomando uma atitude?
Então, já irritado, fiz a coisa mais simples que um adulto pode fazer nessa hora: Cruzei os braços e encarei os dois nos olhos da maneira mais séria possível, indicando que não estava gostando daquela atitude, como se dissesse: “Vocês vão parar agora!”. Alguns modelos de ônibus por aqui tem um par de bancos que ficam de frente um para o outro.
Evidente que já não passava nem sinal de wifi neles a essa altura. É fácil você ser um delinquente com os pais decorativos, mas quando é com um desconhecido, cujo calo você desconhece, aí é outra coisa. Um deles ainda tentou timidamente me afrontar:
“O M-matheus disse q-que você é feio!”
Mantive o mesmo olhar, apesar da vontade de rir. Me xingar de feio é tipo chamar o Silvio Santos de rico, não tem como chamar isso de ofensa. Sentindo que não tinha jeito, os dois ficaram bem quietinhos e não soltaram um pio enquanto eu não deixei o ônibus, e provavelmente depois que eu saí também.
É muito curioso, mas, por falta de limite, os dois moleques estavam se divertindo ali testando os pais, que nada faziam. Mas tremeram para um desconhecido. Porque não sabiam qual era o meu limite, ou se eu realmente ia fazer alguma coisa. Óbvio que eu não ia, mas valeu o susto e provavelmente vão ficar calados se cruzarem comigo de novo!
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Como o texto de ontem tinha uma sequência quando postei no blog anterior, achei justo mantê-la aqui.
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