Essa história, com certeza, vai parecer mentira, mas foi verdade e eu lembro nitidamente, embora na época, em 1999, eu só tivesse cinco anos de idade. O ano estava acabando, na verdade, e a creche onde eu estava matriculado, para não deixar o natal passar em branco, chamou um papai noel para tirar fotos com as crianças. Essas fotos mais tarde seriam vendidas em molduras aos pais. Mas na época eu não sabia de tudo o que tinham planejado na ocasião.
Lembro que montaram um bonito trono para o papai noel, e a ideia de ele aparecer ali muito me empolgava porque, caramba, eu era uma criança e aquele era o papai noel! Eu estava empolgado como um esquilo ficaria se invadisse a fábrica da Nutella!
Mas no dia em que o papai noel chegou na creche, aconteceram algumas coisas que quebraram a minha inocência. A primeira delas é que, pelo que lembro de ouvir em alguma conversa em algum lugar, as fotos seriam pagas antes de serem tiradas, ou seja, se a criança quisesse tirar foto, os pais teriam que pagar antes pela moldura. Não me lembro exatamente as razões, mas não fui uma das contempladas nesse sentido. Mas o problema não foi a foto.
O grande problema é que eu notei duas coisas naquele momento: A primeira é que um molequinho filho de uma mãe atrás de mim falou um pouco alto que o papai noel em questão na realidade era o pai de um dos nossos colegas disfarçado. Por sinal, naquele momento eu reconheci realmente as semelhanças nos olhos dos dois. Conclusão: Por causa do trauma eu nunca mais esqueci o rosto daquele papai noel e nem o do filho dele. E olha que eu não vejo esses seres há 16 anos!
A segunda coisa é que, a criança que o pai não tinha pago anteriormente pela foto nem sequer podia chegar perto, conversar com o papai noel e dizer o que queria de presente na madrugada de Natal. Foi até meio triste por assim dizer, eu estava empolgado como um pintinho esperando para receber comida da mãe só de pensar que o papai noel estaria ali, mas, sem pagar pela foto o melhor que eu podia fazer era ficar olhando ele de longe no meio da multidão de 15 crianças! E ainda nem era ele, era um qualquer usando a roupa dele!
E naquele dia eu acabei perdendo completamente a fé na existência do papai noel. Num primeiro momento, pensei que ele só gostasse de crianças que tem dinheiro, e gradativamente passei a pensar nele como uma figura que os adultos criaram só para tirar dinheiro de outros adultos, tipo, nem uma semana depois. O que em parte é verdade.
E pensando bem, uma criança que desenvolve um pensamento social desse nível aos cinco anos, com certeza, está fadada a ser o Sheldon Cooper da turma quando crescer. De repente, até faz o apelido que meus colegas me deram há alguns meses.
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